DIA #3
06 de setembro de 2024
Carminda Soares e Maria R. Soares | Laboratório relacionado com o projeto Bright Horses 10:00/13:00 | Nave Central
“Bright Horses - do gesto ao significado” é um laboratório dirigido por Carminda Soares e Maria R Soares que promove um conjunto de práticas de desconstrução e ressignificação dos conceitos de família, afeto e competição, promovendo a pesquisa e a experimentação. Utilizando práticas de toque, movimento, voz e diálogo, mergulharemos em territórios que ilustram a complexidade das relações familiares como microcosmos de dinâmicas sociais mais amplas, evocando a disputa, a agressão, o luto, a despedida e o afeto. Este laboratório é uma forma de partilhar os métodos criativos utilizados no processo de criação de “Bright Horses”, o próximo projeto autoral de Carminda Soares e Maria R Soares, com estreia prevista para 2025.
BIO
Carminda Soares é artista multidisciplinar com trabalho nas áreas da dança, performance e escrita. O seu trabalho caracteriza-se por uma procura por novos dispositivos coreográficos e textuais, trabalhando sobre estados de intimidade, resistência e agressão. Os seus projetos tem sido apresentados em diferentes contextos artísticos, dos quais destaca: “Simulacro” (2022) em colaboração com Margarida Montenÿ; “Light On Light” (2022); e “It’s a long yesterday” (2021) em colaboração com Maria R Soares.
Foi convidada a criar "Desfazer- monólogo para um museu" (2023) uma instalação performativa com texto de André Tecedeiro, inserido no projeto pla.tô e no programa performativo De Corpo Presente; e a criar junto com Lígia Soares e Nuno dos Reis "Em Outubro já não estou cá" (2024) espetáculo final do curso de formação teatral do GrETUA.
A par do desenvolvimento das suas criações, tem vindo a colaborar como intérprete com diferentes artistas nacionais e internacionais, entre os quais: Catarina Miranda, Lisa Freeman, Ao Cabo Teatro, Paulo Brandão, Ballet Contemporâneo do Norte, Victor Hugo Pontes, Marianela Boán, Lara Russo e Gonçalo Lamas.
Maria R Soares é coreógrafa e performer. O seu trabalho é essencialmente focado na criação de novos dispositivos que interseccionam coreografia, performance e sonoridade, ativados por dinâmicas de conflito, dissonância, intimidade e afeto. Como coreógrafa, destaca VOID VOID VOID (2023), em colaboração com Antonio Marotta, e It's a long yesterday(2021), em colaboração com Carminda Soares.
Assumiu ainda a direção coreográfica dos projetos colaborativos O meu Velho diz que morre (2022) a convite do Grupo Folclórico da Corredoura e da Sociedade Musical de Guimarães; e O Rodopio (2024) a convite da Outra Voz.
Como intérprete, tem trabalhado com Lisa Freeman, Catarina Miranda, Paulo Brandão, Júlio Cerdeira, Victor Hugo Pontes, Sarah Friedland, Marianela Boán e também com Jorge Gonçalves, Joclécio Azevedo, Miguel Pereira e Mariana Tengner Barros para a companhia Ballet Contemporâneo do Norte.
Foi vencedora da bolsa Jovens Criadores do Centro Nacional de Cultura em 2024. E foi artista associada do Visões Úteis no biénio 2019/2020.
Margarida Monteny | Partilha da pesquisa Boca de Sino
14:00 | Praça
“Em tempos de paz fabricam-se sinos, em tempos de guerra canhões”
Boca de Sino é uma investigação em torno do património sineiro português e as suas representações, centrando-se, sobretudo, na associação entre as práticas usadas pelos sineiros para o toque em contrapeso e a técnica da corda vertical presente no circo.
O património sineiro português encontra-se atualmente em vias de desaparecimento. Esta é uma prática cultural reservada maioritariamente ao sexo masculino, herdada de pais para filhos, circunscrita a ambientes de culto e com escassos registos documentais. Ao mesmo tempo é também um dispositivo sonoro simbólico que não recorre a pautas, a notas ou a scores, mas sim a ritmos e simbologias.
No Encontro de Artes Performativas - Re=iniciar será proposta uma conversa informal sobre este tema, projeto de investigação de Margarida Montenÿ, que culminará numa performance a estrear no final de 2025.
Um projeto em torno de identidade, memória, tradição e património.
BIO
Margarida Montenÿ trabalha maioritariamente entre o circo e as artes performativas.
Procura uma abordagem transdisciplinar dentro da sua pesquisa, trabalhando sobre estados de intimidade, força e vulnerabilidade. Das suas criações destaca “BLUE”, uma coprodução Mostra Estufa - Teatro Municipal do Porto e Companhia Erva Daninha, estreado em 2023 e “Simulacro” criado em parceria com Carminda Soares, uma coprodução Instável - Centro Coreográfico / Teatro Municipal do Porto e Teatro das Figuras estreado em 2022.
Destaca ainda os projetos “Ordesa”, uma coleção de duetos com Pedro Branco e ''Por um Fio'' de Daniel Seabra para a Companhia Erva Daninha.
Colaborou enquanto intérprete para Ballet Contemporâneo do Norte/ Orquestra Filarmónica Portuguesa, Miguel Pereira, Companhia Erva Daninha, Circo Caótico, Teatro Musgo, Vanda R Rodrigues/Antípoda, Grandpa’s Lab, Liliana Garcia, Cláudia Nóvoa, entre outros.
ASTA | ad murmuratio
19:00 | Praça
ad murmuratio - do latim, rumor surdo de muitas vozes - trata-se de uma performance/instalação urbana construída para ser apresentada na rua, em praças ou avenidas, miradouros, jardins, inserida em espaços arquitectónicos diferenciados. Pode também ser apresentado dentro de teatros, edifícios emblemáticos, castelos, igrejas, museus....
ad murmuratio conta um poema ou um texto aos transeuntes ou ao público de um festival. Não é declamação nem recitação. É um dizer íntimo, ao ouvido. Quase como um murmúrio, são sussurradas aos ouvidos das pessoas as palavras imortalizadas pela poetisa Florbela Espanca.
ad murmuratio recupera a tradição de falar próximo do outro, junto do outro e para o outro. E, num repente, e por acaso, ao passar numa rua, numa praça, ao entrar num edifício, numa igreja... somos desafiados por um desconhecido a sentar-nos numa cadeira para escutar e... sentir!
ad murmuratio é como um ritual em vias de extinção! Em que ocasiões sussurramos ou falamos ao ouvido do outro?! Quando nos confessamos, quando queremos contar um segredo, quando fazemos juras de amor...
Em ad murmuratio cada apresentação é única e individualizada, pois a relação que se estabelece entre emissor e receptor é irrepetível, tornando o espetáculo pessoal, permitindo-nos chegar ao mais íntimo de cada um.
BIO A ASTA – Associação de Teatro e Outras Artes, foi fundada em 2000. A sua identidade está assente numa cultura transdisciplinar, que tem por base o teatro. Desde a sua origem procuramos a originalidade e a diferença, numa constante procura de novos métodos e linguagens, seja reinventando clássicos ou criando a partir do espaço vazio. O seu trabalho é bastante diversificado, centrando-se em cinco eixos principais: Criações; Festivais/Programação; Circulação; Serviço Educativo e Projetos de Investigação.
Ana Dinger | O que é feito de si, Margarida de Abreu?
21:30 | Blackbox
O título toma de empréstimo outro título, o de um programa da RTP, de início dos anos 1990s, de autoria de Nunes Fortes e Paulo Alexandre, que, em episódios curtos, “recorda[va] os rostos e as memórias de algumas das [notáveis] figuras portuguesas (...) nos campos das artes, do desporto, e do espetáculo”. Margarida de Abreu foi uma das figuras entrevistadas, numa das suas últimas aparições televisivas.
Esta pergunta, “o que é feito de si?”, aponta, por um lado, para uma certa interrupção ou falta de visibilidade, para um intervalo entre uma presença intensa e manifesta e uma presença mais latente. Por outro, se a lermos com outra ênfase, aponta para outro tipo de rasto: em que coisas há partículas de si? Que coisas resultaram de movimentos/gestos feitos por si? E, ainda, que matérias-resto sobraram/subsistem, nos seus variados modos de existência: papéis onde palavras foram riscadas com tinta, clips enferrujados que agruparam documentos, incidências de luz e químicos em papel a que chamamos fotografias e os seus negativos, imagens focadas e desfocadas, índices...
Este título-questão dá conta da direção deste trabalho, que ensaia modos de partilha do arquivo de Margarida de Abreu, enquadrado num projeto mais vasto de investigação e criação artísticas em torno do seu espólio. Margarida de Abreu foi uma das introdutoras, diplomadas, do método Dalcroze em Portugal; em 1944, fundou o Círculo de Iniciação Coreográfica (CIC) e em 1946 publicou um manifesto; na viragem da década de 1950 para 1960, e depois de se debater quinze anos pela sustentação do CIC, aceitou partilhar a direção artística dos Bailados Portugueses Verde Gaio (BPVG) com Fernando Lima; é talvez uma das professoras e pedagogas mais influentes na dança em Portugal, contando com mais de sessenta anos de atividade.
Mas o que é possível dizer sobre Margarida de Abreu com base no seu arquivo? O que é que confirma e contraria as expectativas daquilo que se acha saber sobre quem foi? Esse “si”, da formulação “O que é feito de si, Margarida de Abreu?”, de que é/foi/será feito?
BIO Ana Dinger
Não sendo necessário definir o que é, prefere não fazê-lo. Mas quando é interpelada nesse sentido ou para não deixar desapoiada a pessoa que pergunta – e há sempre quem pergunta –, vai dizendo que tem formação em artes visuais e dança, ou avança mesmo que tem uma licenciatura em escultura, uma pós-graduação em arte contemporânea, e um doutoramento por terminar há vários anos em estudos de cultura. Mas essa é uma pequena parte. Colabora com vários projetos que envolvem experimentação e investigação artísticas, curadoria e programação. Desde há muito que se entretém com exercícios de leitura e escrita em torno de fantasmas, arquivos-corpo e corpos-arquivo.