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- 2º Encontro de Artes Performativas
A liberdade é a persistência do riso de quem aguentá-lo pode sem esgar. \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ DIA 4 Collective Le Poeme en Volume (workshop para professores | 02 - 15:00/19:00 Ginasiano) workshop improviser autour / improvising around | 10:00/13:00 Blackbox Três artistas improvisam uma palestra a partir de um dos conceitos respectivos que utilizam para criar improvisações astutas. A discussão sendo uma activação destes conceitos é uma troca aberta cujo objectivo é. Residência e partilha Tout le monde est invité | 21:30 Blackbox Todos estão convidados é uma proposta do CEPI Nouvelle Aquitaine e POEME EN VOLUME. Todos estão convidados para uma improvisação in situ que inclui música electrónica e acústica, fotografia projectada em tempo real, dança contemporânea e poesia. Todos estão convidados é um relacionamento aberto com o público a partir de uma série de workshops transversais sobre práticas de improvisação. BIO LE POEME EN VOLUME é uma companhia transdisciplinar fundada pelo coreógrafo Gaël Domenger e pelo poeta Donatien Garnier em 2015. CEPI, Centro Europeu de Improvisação, é uma rede internacional composta por músicos e bailarinos fundada em 2014 pelo contrabaixista americano Bare Philips. É hoje presidido pelo improvisador e teórico da música eletrônica, György Kurtág Jr. No início de 2022, a sucursal da Aquitânia (sudoeste de França) do CEPI e LE POEME EN VOLUME lançaram uma comunidade de prática em torno da noção de Convidar. Trata-se de reunir uma prática de improvisação de dança e música, abrindo-a a disciplinas que raramente lhe estão associadas, como a fotografia, a poesia, a pintura, a arquitectura, a cenografia, a cozinha, a luz…. Implica também, com meios cenográficos simples, investir em espaços não convencionais (apartamento, casa, quiosque, loja, rua, terreno baldio, interstícios múltiplos, roaming, etc.) ou a requalificação de locais destinados a receber o público para, precisamente, envolver o espectador em sua relação com os performers. Uma relação que é trabalhada/explorada antes de cada atuação nas oficinas transversais oferecidas com as ferramentas educativas desenvolvidas em conjunto pelo CEPI e LE POEME EN VOLUME. \\\ Catarina Real | Apresentação do livro “Cores” | 15:00 Nave Central Cores é um livro de poemas em torno da cor em movimento, da cor em acção na vida quotidiana, íntima ou social. Resulta este livro da atenção à composição, fruto da edução em Pintura, e da atenção ao movimento, fruto da afecção pela dança. Os poemas de Cores atentam à composição dinâmica das cores. De uma perspectiva da pintura, ou do pintor, o fenómeno da cor é o que anima a composição da matéria num enquadramento, o quadro. Deleuze coloca a nota vibrante da matéria nas pinturas de Freud como aquilo que suporta uma lógica da sensação, direcção imediata ao core sensitivo do humano, e que se sustenta perante nós, como um ordenador do sensível. De uma perspectiva coreográfica alargada, o movimento não começa nem termina, é a continuidade do uso das pernas no espaço da cidade, nos espaços da casa. A ocupação e delineação da arquitectura para formação ou deformação dos corpos. Juntando ambas, pintura coreografada ou coreografia pintada, lê-se a cor como coisa movente, em contínuo reenquadramento e adaptação ao corpo e aos corpos. BIO Catarina Real (1992, Barcelos) Trabalha na intersecção entre a prática artística e a investigação teórica nos campos expandidos da pintura, escrita e coreografia, maioritariamente em projectos colaborativos de longa duração, que se debruçam sobre o questionamento de como podemos viver melhor colectivamente. É doutoranda do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho com uma investigação que cruza arte, amor e capital. Mantém uma prática de comentário - nas vertentes de textos de reflexão, textos introdutórios a exposições, entrevistas e moderação de conversas - às obras e processos realizados pelos artistas na sua faixa geracional, com a intenção de contribuir para um ambiente salutar de crítica e criação colectiva e comunitária. É vice-presidente da associação francesa Artistes en Résidence desde 2019 e editora em Edições da Ruína desde 2022. Apresentou publicamente o seu trabalho em instituições tais como Teatro Municipal do Campo Alegre, Galeria Municipal do Porto, Museu Amadeo de Souza-Cardoso, etc.; espaços independentes tais como Rua do Sol, Campanice, Graciosa, Laboratório das Artes, Sol Pele, etc.; e galerias como Kubik Gallery, Galeria Madragoa, No.no Gallery e Galeria Graça Brandão. Realizou residências no Espaço do Tempo, Gnration, Appleton Square, Fórum Dança, Artistes en Résidence, etc. Dos projectos mais recentes destacam-se a organização, em colaboração com David Revés, do ciclo de conversas e podcast Amor e Morte com participação de diferentes convidados do cenário cultural português; a residência em Residency Unlimited (US) com bolsa do Atelier Museu Júlio Pomar; a exposição Things I've Seen em duo com Gonçalo Duarte na Flux Factory (US); a exposição-performance "Escorrega na Peruca" no bloco de carnaval Estagiários de Belo Horizonte (BR) e o livro "ISTO" publicado pelas Edições Senhor Teste. \\\ Joclécio Azevedo | Uma coisa equilibrada entre duas coisas | 15:00 Espaço 1 Experiência híbrida, performance/exercício/conferência/aula individual, um membro do público de cada vez. A duração seria à volta de 20/25 minutos, em sessões contínuas. Cada sessão à volta de 3 horas. BIO Brasil, 1969. Vive no Porto desde 1990. O seu trabalho tenta articular diferentes papéis que a escrita pode assumir na prática artística, como gesto, matéria ou instrumento de registo da performance. Foi diretor artístico do Núcleo de Experimentação Coreográfica entre 2006 e 2011. É membro da direção plenária da GDA (Cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas), desde 2008 e foi membro do Conselho de Curadores da Fundação GDA de 2010 a 2017. Artista residente da Circular Associação Cultural a partir de 2012 e coordenador do programa educativo da associação a partir de 2018. Organizou seminários e participou como formador em diversos programas como o FAICC – Formação avançada em interpretação e criação coreográfica, da Companhia Instável, a Oficina ZERO ou o Balleteatro Escola Profissional. Em 2016 trabalhou como assistente convidado no Curso de Especialização em Performance na FBAUP. Colaborou, de 2016 a 2018, com o grupo Sintoma – Performance, Investigação e Experimentação, orientado por Rita Castro Neves e desenvolvido pelo i2ADS Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Participou em trabalhos de diversos criadores ligados às artes plásticas ou performativas, como por exemplo Miguel Pereira, Isabelle Schad, Joshua Sofaer, Cildo Meireles, Tino Seghal, Peter Bebjak/Juraj Korec, Jean-Marc Heim, Ronit Ziv, Gary Stevens, Simone Forti, André Guedes, E. M. de Melo e Castro, Joana Providência, João Paulo Seara Cardoso, Ana Figueira, José Caldas, Isabel Barros e Né Barros. Frequenta atualmente o doutoramento em Arte Contemporânea do Colégio das Artes, Universidade de Coimbra. \\\ Henrique Fernandes | concerto WEE - DUST MEMORIES | 17:00 Praça De forma intermitente, os artistas João ricardo e Henrique Fernandes durante um período de tempo situado entre 2021/22, registaram em formato áudio, um conjunto de fontes/materiais sonoros tanto acústicos como eletrônicos, provenientes de fontes eletrónicas em elevado risco de inoperacionalidade e obsolescência, tais como reprodutores de áudio de vários formatos ( leitores de CD, leitores de cassete), rádios, televisores, telemóveis, computadores, lâmpadas , eletrodomésticos variados entre outros...), procurando fontes sonoras que operassem no território do erro e do efémero. Nesse sentido e destacando a não alteração ou manipulação sonora das fontes originais, foram compostas uma série de peças sonoras, que deram origem à edição fonográfica de WEEE- DUST MEMORIES, editado pela Sonoscopia no ano de 2023. Para o 2º Encontro de Artes Performativas, será apresentada em estreia absoluta a performance ao vivo deste projeto. BIO HENRIQUE FERNANDES Formado em contrabaixo pela Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, desenvolve uma actividade paralela à sua formação clássica nas áreas da improvisação e damúsica experimental. Foi um mais dinâmicosimpulsionadores do desenvolvimento da cena portuense a partir da transição do milénio, colaborando e tocando com inúmeros improvisadores e formações como Mécanosphère, StealingOrchestra, Três Tristes Tigres,Estilhaços, John Zorn´s Cobra, Damo Suzuki ou FritzHauser. Nos últimos anos, concentra o seu trabalho na construção de novos instrumentos e na criação de obras sonoras que desenvolve colectivamente com a Sonoscopia, associação da qual é membro fundador e com a qual se apresentou em vários países europeus, da América do sul e nos Emirados Árabes Unidos. Como criador, foca-se no detalhe sónico dos objetos e dos materiais, desenvolvendo obras onde o som é reforçado por uma forte componente visual. Nesta área, destacam-se as peças para todas as infâncias INsono e Futurina, a exploração luminosa e electromagnética Draper Point ou a imersão subaquática Sublumia. João Ricardo nasceu no Porto em 1973. É músico, radialista, repórter ocasional, técnico de som. Em suma, o operador de cabine polivalente (ocp). Compõe para multi-média e teatro. A sua prática artística tem sido exibida aquém e além fronteiras, em eventos de menor ou maior dimensão. Como gosta de proclamar, “tudo é uma questão de frequência”. https://opcabpol.bandcamp.com/ https://www.mixcloud.com/ocp/ \\\ Marina Leonardo | partilha do processo “TUVALU ou o desaparecimento das coisas” | 20:00 Nave Central A terra estava sem forma e vazia, e a escuridão cobria a face das profundezas. Génesis 1:2 TUVALU ou o Desaparecimento das Coisas é um espetáculo teatral sem a presença de atores criado em 2023 e estreado no mesmo ano no Teatro Taborda em Lisboa, uma criação de Marina Leonardo e Nuno M Cardoso, este espetáculo tinha a intenção de ser apresentado apenas uma vez (uma temporada de 6 sessões) e depois "desaparecer". Esta experiência levava o público a entrar num espaço dedicado à reflexão sobre o mundo em que vivemos, num ambiente intimista e sensorial. Este era conduzido num percurso habitado por vozes que levantavam questões sobre o Tempo, a Existência, a Mudança e a Resiliência. Eram colocadas questões como: Que responsabilidade tens na subida do nível do mar nos oceanos? O que fazes para alterar isso? Ou, qual foi a última coisa que desapareceu da tua vida? E o que desapareceu completamente em ti? TUVALU é uma ilha-país, que devido à crise ecológica corre o risco de ser submersa pelas águas oceânicas do Pacífico, a partir deste paraíso perdido, proponho uma reflexão e uma partilha sobre o processo que foi este espetáculo e uma aproximação da visão a um futuro próximo, perdido. BIO Marina Leonardo (Évora, 1993) artista que trabalha como intérprete em teatro e cinema, encenação, realização e argumento. Frequenta o mestrado de Realização Cinema e TV na Escola Superior Artística do Porto. Licenciada em Teatro pela Universidade de Évora (2014) e em Teatro Físico e Visual pelo Institut del Teatre de Barcelona (2014). Foi uma das representantes do projeto École des Maîtres, dirigido por Angélica Liddell (2019). É cofundadora e codiretora artística do Colectivo Buganvílias, onde iniciou processos de escrita, encena e produz espetáculos cruzando teatro, cinema e escultura. Enquanto criadora explora fronteiras entre imaginação e memória numa prática interdisciplinar abordando temas como pós-humanismo, futuro, segredo e corpo. Realizou o espaço que existe entre uma coisa e outra (2024) uma curta-experimental, com a orientação de Amarante Abramovici e ALÉMkhush (2024) um documentário que acompanha a vida de imigrantes a viver em zonas rurais de Portugal, com foco no Alentejo e região Oeste. Prepara a sua primeira produção de filme ficção, com rodagem no ano de 2025. Como interprete destaca as curtas-metragens Terra Amarela (2018), realizada por Dinis M. Costa, nomeada para melhor curta-metragem nos Prémios Sophia (2019) e com o seu papel Iryna recebeu o prémio de Melhor Elenco nos CinEuphoria Awards - National Competition, tendo participado em festivais em Israel, Alemanha, Estados Unidos da América, Itália e Espanha e Rapariga Projetada (2024) de Francisco Noronha que protagoniza, tendo estado presentes em festivais nacionais como o FEST- Espinho e internacionais na Sérvia e na Arménia. Em televisão refere a série Lugar 54 , produzida pela OMAJA Films, tendo realizado um dos episódios e participado nos processos de escrita do argumento. Durante o seu percurso trabalhou como atriz a nível nacional com o Teatro Nacional 21, GATO SA, Companhia João Garcia Miguel, UmColectivo, Nova Companhia, Ana Borralho e João Galante, Nuno M Cardoso, Tiago Vieira, Mónica Calle, Tânia Carvalho, Mário Primo, Cristina Carvalhal, Ana Tamen, Beatriz Batarda, Albano Jerónimo, Ana Vilela da Costa, Martim Pedroso, João Telmo. A nível internacional destaca o trabalho com Angélica Liddell, Lionel Menard, Casa del Silencio, Juan Carlos Agudelo, Desvio Colectivo, Stéphane Lévy, Juanjo Cuesta e Maria Codinach. Trabalhou autores como Pier Paolo Pasolini, Mark Fisher, Eurípides, Rebecca Solnit, William Shakespeare, Bernard-Marie Koltès, Michel Foucault, Henrik Ibsen, Bertolt Brecht, Sarah Kane, August Strindberg, Anton Tchekhov, Heiner Müller, Alfred Jarry, Ruben A, Gil Vicente, Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, José Maria Vieira Mendes e Eduarda Dionísio. Participou em diversos festivais de teatro e cinema, tais como Mirada, SESC em São Paulo, Santos, Brasil; Festival Ibero-americano de Bogotá, Colombia; International Mime Art Festival, Polónia; Festival Internacional de Teatro de Zaragoza, Espanha; Festival Short Theatre em Roma, Itália; Festival Oye Toca a Ver em Tenerife, Espanha; Théâtre La Balsamine em Bruxelas, Bélgica; Comédie de Caen, França; Festival de Cine de Berja, Espanha; New York Portuguese Film Festival, USA; Savana International Film Festival, Itália; Istanbul International Short Film, Turquia; International Humanitarian Film Festival, Weimar, Alemanha; Festival Internacional de Teatro de Ostroleka, Polónia. \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\DIA 5 Mariana Tengner Barros | EXCALIBUR - workshop Mariana Tengner Barros | 10:00/13:00 e 15:00/18:00 Nave Central Fascina-me o modo como as pessoas se representam e mostram nos planos sociais da existência. Intrigam-me as tensões entre “parecer” e “ser” e como podemos viver mais próximos da nossa essência. Penetrar no abismo do mistério, sem medo, reclamando a magia recalcada pelo “contemporâneo”. EXCALIBUR como símbolo do que está oculto e que ressurge agora, nos corpos e suas manifestações oníricas e que se revela na luta contra a hiper-normalização.Este será um laboratório de experimentação criativa, que indaga as possibilidades da dança, do movimento e da performance como prática política de ativação do corpo. Serão investigados modos de atenção e estados de consciência que permitam a reconfiguração dos filtros que usamos para entender a “realidade”. Através da pesquisa de movimento com base na percepção e sensação, conexão corpo-mente e expansão dos sentidos, preparar-se-á outro corpo, articulado, que exprime a linguagem não linear e complexa oriunda da tópica emocional, sensorial e imaginativa, permitindo que a forma apareça através da sensação e da atenção. A prática de liberdade, sem as diversas “programações” a que estamos sujeitos enquanto seres humanos, ao desconstruir e reconstruir as múltiplas imagens que temos de nós próprios, e do mundo, enquanto dançamos. A noção de dança será constantemente posta em causa através da reconfiguração dos padrões de comportamento e identidade. Abarcar-se-á o jogo, o jogar a sério, que é brincar, porque brincar é essencial para a percepção lúcida da realidade, desligada da auto-censura e em sintonia com a curiosidade. Irei partilhar inúmeras ferramentas que fui reunindo ao longo do meu percurso, desde práticas de movimento e meditação, a guiões imaginários e diferentes rituais, ferramentas que uso nos meus processos criativos e na vida em geral. Pede-se aos participantes para trazerem roupa e sapatos confortáveis, assim como 3 objectos fetiche (que tenham um especial valor para a pessoa que o traz).EXCALIBUR é dirigido a todas as pessoas que tenham interesse nestas questões, que tenham vontade de explorar diversas formas de expressão. Idade mínima 18 anos. BIO Coreógrafa, bailarina, performer. O seu trabalho tem sido apresentado em diversos países na Europa e América do Sul, salientando “The Trap” (2011, Vencedor do Prémio do Público Jardin D’Europe, Áustria), “A Power Ballad” (2013) e “Resurrection” (2017) co-criações com o coreógrafo Mark Tompkins e “Instructions for the gods: i4gods” (2017), uma performance contínua de 5 h para museus em colaboração com o músico Pan.demi.CK . Colaborou com vários artistas em diferentes projectos enquanto bailarina, actriz e performer salientando Francisco Camacho, Meg Stuart, John Romão, Ballet Contemporâneo do Norte, Diana Niepce, Elizabete Francisca, Nuno Miguel, António Mv, Jonny Kadaver, Mee_K, Agnieszka Dmochowska, Raquel Castro, Retina Dance Company, Rafael Alvarez e Filipa Francisco. Licenciada em dança pela Northern School of Contemporary Dance em Leeds, Inglaterra (2003). Estagiou no Ballet Theatre Munich, sob a direção artística de Philip Taylor em Munique (2004). Membro fundador do coletivo artístico The Resistance Movement em Leeds (2005). Completou o Programa de Estudo e Criação Coreográfica-PEPCC no Fórum Dança em Lisboa (2009). Foi artista associada da EIRA entre 2013 e 2016. É diretora artística d’A BELA Associação. Integra a banda Kundalini XS e o projecto musical performativo Digital Pimp Hard at Work, ambos editados pela Gruta. Em 2016 recebeu o Galardão de Mérito Municipal Cultural pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão pelo seu percurso profissional. Concilia o seu trabalho como criadora com o de formadora em diferentes contextos de oficinas e aulas para profissionais e não profissionais e trabalho de ação social, salientando o projecto continuado multidisciplinar A Floresta Invisível, focado na defesa das árvores anciãs e na promoção da consciência ambiental \\\ Joclécio Azevedo | Uma coisa equilibrada entre duas coisas | 15:00 Espaço 1 Experiência híbrida, performance/exercício/conferência/aula individual, um membro do público de cada vez. A duração seria à volta de 20/25 minutos, em sessões contínuas. Cada sessão à volta de 3 horas. \\\ Miguel Pereira | 61 minutos | 21:30 Blackbox BIO Miguel Pereira frequentou a Escola de Dança do Conservatório Nacional e a Escola Superior de Dança, em Lisboa. Foi bolseiro em Paris (Théâtre Contemporain de la Danse) e em Nova Iorque com uma bolsa do Ministério da Cultura. Como intérprete trabalhou, entre outros, com Filipa Francisco, Francisco Camacho e Vera Mantero. Participou na peça e no filme “António, Um Rapaz De Lisboa” de Jorge Silva Melo, trabalhou com Jérôme Bel em “Shirtologia (Miguel)” (1997) e foi intérprete em “LesInconsolés” de Alain Buffard, na remontagem da peça em 2017. Como criador destaca os trabalhos “Antonio Miguel”, peça com a qual recebeu o Prémio Revelação José Ribeiro da Fonte do Ministério da Cultura e uma menção honrosa do prémio Acarte/Maria Madalena Azeredo Perdigão (2000), “Notas Para Um Espectáculo Invisível” (2001), Data/Local (2002), “Corpo de Baile” (2005), “Karima meets Lisboa meets Miguel meetsCairo”, uma colaboração com a coreógrafa egípcia KarimaMansour (2006), “Doo” (2008), “Antonio e Miguel”, uma nova colaboração com Antonio Tagliarini (2010), “Op. 49” (2012), “WILDE” (2013) uma colaboração com a mala voadora, “Repertório para Cadeiras, Figurinos e Figurantes” (2015) para o Ballet Contemporâneo do Norte, “Peça para Negócio” e “Peça feliz” (2017), “Era um peito só cheio de promessas” (2019), “Falsos Amigos” (2021) em colaboração com Guillem Mont de Palol, e “Miquelina e Miguel” (2022) a partir da relação entre Miguel e a sua mãe, de 87 anos diagnosticada com demência. Em 2003, 2007 e 2015 criou para o repertório da Transitions Dance Company/Laban Centre as peças “Transitions”, “Transitions II” e “Transitions III” que integraram a tournée nacional e internacional da companhia (2003/2004, 2007/2008 e 2014/2015). No ano de 2003 foi alvo de uma mini-retrospectiva nas Caldas da Rainha, integrada no ciclo “Mapas” organizado pela Transforma-AC em colaboração com a ESTGAD. O seu trabalho tem sido apresentado em toda a Europa, Brasil, Uruguai e Chile, e é professor convidado em diferentes estruturas nacionais e internacionais. Desde 2000, convidado por Vera Mantero, é artista associado da estrutura O Rumo do Fumo. \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\DIA 6 Carminda Soares e Maria R. Soares | Laboratório relacionado com o projeto Bright Horses | 10:00/13:00 Nave Central “Bright Horses - do gesto ao significado” é um laboratório dirigido por Carminda Soares e Maria R Soares que promove um conjunto de práticas de desconstrução e ressignificação dos conceitos de família, afeto e competição, promovendo a pesquisa e a experimentação. Utilizando práticas de toque, movimento, voz e diálogo, mergulharemos em territórios que ilustram a complexidade das relações familiares como microcosmos de dinâmicas sociais mais amplas, evocando a disputa, a agressão, o luto, a despedida e o afeto. Este laboratório é uma forma de partilhar os métodos criativos utilizados no processo de criação de “Bright Horses”, o próximo projeto autoral de Carminda Soares e Maria R Soares, com estreia prevista para 2025. BIO Carminda Soares é artista multidisciplinar com trabalho nas áreas da dança, performance e escrita. O seu trabalho caracteriza-se por uma procura por novos dispositivos coreográficos e textuais, trabalhando sobre estados de intimidade, resistência e agressão. Os seus projetos tem sido apresentados em diferentes contextos artísticos, dos quais destaca: “Simulacro” (2022) em colaboração com Margarida Montenÿ; “Light On Light” (2022); e “It’s a long yesterday” (2021) em colaboração com Maria R Soares. Foi convidada a criar "Desfazer- monólogo para um museu" (2023) uma instalação performativa com texto de André Tecedeiro, inserido no projeto pla.tô e no programa performativo De Corpo Presente; e a criar junto com Lígia Soares e Nuno dos Reis "Em Outubro já não estou cá" (2024) espetáculo final do curso de formação teatral do GrETUA. A par do desenvolvimento das suas criações, tem vindo a colaborar como intérprete com diferentes artistas nacionais e internacionais, entre os quais: Catarina Miranda, Lisa Freeman, Ao Cabo Teatro, Paulo Brandão, Ballet Contemporâneo do Norte, Victor Hugo Pontes, Marianela Boán, Lara Russo e Gonçalo Lamas. Maria R Soares é coreógrafa e performer. O seu trabalho é essencialmente focado na criação de novos dispositivos que interseccionam coreografia, performance e sonoridade, ativados por dinâmicas de conflito, dissonância, intimidade e afeto. Como coreógrafa, destaca VOID VOID VOID (2023), em colaboração com Antonio Marotta, e It's a long yesterday(2021), em colaboração com Carminda Soares. Assumiu ainda a direção coreográfica dos projetos colaborativos O meu Velho diz que morre (2022) a convite do Grupo Folclórico da Corredoura e da Sociedade Musical de Guimarães; e O Rodopio (2024) a convite da Outra Voz. Como intérprete, tem trabalhado com Lisa Freeman, Catarina Miranda, Paulo Brandão, Júlio Cerdeira, Victor Hugo Pontes, Sarah Friedland, Marianela Boán e também com Jorge Gonçalves, Joclécio Azevedo, Miguel Pereira e Mariana Tengner Barros para a companhia Ballet Contemporâneo do Norte. Foi vencedora da bolsa Jovens Criadores do Centro Nacional de Cultura em 2024. E foi artista associada do Visões Úteis no biénio 2019/2020. \\\ Margarida Monteny | Partilha da pesquisa Boca de Sino | 14:00 Praça BIO Margarida Montenÿ trabalha na área do circo e das artes performativas. Destaca o projeto Por um Fio com Daniel Seabra para a Companhia Erva Daninha, e Ordessa, uma coleção de improvisos com Pedro Branco. Trabalhou profissionalmente com Miguel Pereira, Cláudia Nóvoa, Liliana Garcia, Teatro Musgo, Circo Caótico, Grandpa’s Lab, entre outros. Formou-se na Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espetáculo - Chapitô e na Salto - International Circus School. \\\ ASTA | ad murmuratio | 19:00 Praça ad murmuratio - do latim, rumor surdo de muitas vozes - trata-se de uma performance/instalação urbana construída para ser apresentada na rua, em praças ou avenidas, miradouros, jardins, inserida em espaços arquitectónicos diferenciados. Pode também ser apresentado dentro de teatros, edifícios emblemáticos, castelos, igrejas, museus.... ad murmuratio conta um poema ou um texto aos transeuntes ou ao público de um festival. Não é declamação nem recitação. É um dizer íntimo, ao ouvido. Quase como um murmúrio, são sussurradas aos ouvidos das pessoas as palavras imortalizadas pela poetisa Florbela Espanca. ad murmuratio recupera a tradição de falar próximo do outro, junto do outro e para o outro. E, num repente, e por acaso, ao passar numa rua, numa praça, ao entrar num edifício, numa igreja... somos desafiados por um desconhecido a sentar-nos numa cadeira para escutar e... sentir! ad murmuratio é como um ritual em vias de extinção! Em que ocasiões sussurramos ou falamos ao ouvido do outro?! Quando nos confessamos, quando queremos contar um segredo, quando fazemos juras de amor... Em ad murmuratio cada apresentação é única e individualizada, pois a relação que se estabelece entre emissor e receptor é irrepetível, tornando o espetáculo pessoal, permitindo-nos chegar ao mais íntimo de cada um. BIO A ASTA – Associação de Teatro e Outras Artes, foi fundada em 2000. A sua identidade está assente numa cultura transdisciplinar, que tem por base o teatro. Desde a sua origem procuramos a originalidade e a diferença, numa constante procura de novos métodos e linguagens, seja reinventando clássicos ou criando a partir do espaço vazio. O seu trabalho é bastante diversificado, centrando-se em cinco eixos principais: Criações; Festivais/Programação; Circulação; Serviço Educativo e Projetos de Investigação. \\\ Ana Dinger | Margarida de Abreu Uma Aproximação | 21:30 Blackbox Esta apresentação inclui uma mostra de algumas peças do acervo do Museu Nacional do Teatro e da Dança e de materiais provindos do arquivo pessoal/familiar de Margarida de Abreu e uma conversa assente nessa mostra. Margarida de Abreu (1915-2006) é uma figura incontornável na história e estórias da dança como prática artística em Portugal, destacando-se a sua enorme influência no campo do ensino e pedagogia (mais de sessenta anos de carreira), e a sua tenaz ação no sentido de fazer existir uma companhia (nacional) de bailado distanciada do folclorismo que atribuía ao Grupo de Bailados Verde Gaio. Em 1944, apenas quatro anos após a criação dessa companhia estatal, única no país, Margarida de Abreu funda o Círculo de Iniciação Coreográfica (CIC). Plataforma de ensaio das premissas do seu Manifesto, publicado em 1946, o CIC constitui um marco na intersecção de dimensões como produção coreográfica, divulgação, formação e profissionalização da dança no contexto nacional. As circunstâncias mudam em 1960, quando, contando com mais de quinze anos de sustentação do CIC, Margarida de Abreu aceita o convite para codirigir, com Fernando Lima, o grupo Verde Gaio, com uma proposta de reformulação do repertório. Ainda que apenas alguns traços de uma trajetória maior, estes serão os mais focados na apresentação. Uma significativa constelação de índices deste percurso – programas, fotografias, cartazes, recortes de imprensa, correspondência, contabilidade etc. – corresponde ao arquivo pessoal/familiar de Margarida de Abreu, que este projeto propõe inventariar, digitalizar e estudar. Esta partilha pública, inaugural, contempla três planos: a descrição do processo de investigação até à data; uma abordagem à trajetória de Margarida de Abreu ancorada numa seleção de materiais do seu espólio e do acervo do MNTD; uma (meta)reflexão acerca das tensões, vicissitudes e potências da relação entre arquivo e performatividade. Como o título indica, é uma primeira aproximação, fase inicial de uma pesquisa mais demorada e exaustiva; é uma aproximação, porque opera já um encurtamento da distância que resulta da falta de circulação e difícil acesso a informação/rastos; é, ainda, uma aproximação, porque, como qualquer outra investigação, se desenrola com um conjunto de condições, nomeadamente a agência (apetências, inclinações e limites) de quem a faz, uma abordagem entre outras possíveis. BIO Artista-investigadora, com formação em artes visuais e dança. Desde 2008, após licenciatura em Escultura (FBAUL), durante pós-graduação em Arte Contemporânea (UCP) e como doutoranda em Estudos de Cultura (UCP), debruça-se sobre a multimodalidade dos modos de continuação de trabalhos performativos. Bolseira inov-art, estagia no Institute for Cultural Heritage entre 2009 e 2010, integrando as discussões do grupo New Strategies for Conservation in Contemporary Art. Desde então, nos contextos académico e artístico, desenvolve investigação orientada para o questionamento ontológico e epistemológico do arquivo e para a frequentação crítica de histórias e memórias, (re)articulando noções como espectralidade, hospitalidade, corpo-arquivo e arquivo-corpo. Desde 2011, escreve e publica textos de análise a manifestações artísticas, destacando O que resta, capítulo de O Céu de Anne Teresa de Keermaeker é em Lisboa (2012) e Ghosting; or a Way of Continuing for Performance-Based Works (2020), artigo publicado em coletânea pelo Museo Reina Sofia. Salienta ainda a organização de eventos híbridos como Exposing Exhibition (2011) e Archiving Performance (2019). Colabora com projetos de programação, investigação, criação e experimentação artísticas, entre os quais: AND Lab (desde 2015), Para Uma Timeline a Haver: genealogias da dança como prática artística em Portugal (desde 2019), Es.Col.Az (desde 2021) e Assembleia Ordinária (desde 2021). Da pesquisa para a Timeline resulta (desde 2020) um projeto individual de estudo e divulgação do arquivo familiar de Margarida de Abreu. De longevidade é a colaboração com o AND_Lab: parte da equipa nuclear, tem trabalhado no acompanhamento de oficinas e cursos; no burilamento de conceitos; no desenho de projetos (como “Do Irreparável: o que pode uma ética de reparação?”); em publicações (como a Caixa-Livro AND); na tradução de conteúdos para inglês; na elaboração de eventos e artefactos (como a co-criação, com Fernanda Eugenio, da série Metálogos). \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\DIA 7 Filipa Duarte | Apresentação work in progress D1V3R: uma possível partitura para não esquecer de pensar. | 15:00 Blackbox D1V3R: uma possível partitura para não esquecer de pensar., a nova criação de Filipa Duarte vem-nos propor um espaço liminar onde as repetições e os rituais são forma e conteúdo. Através de questões como: “Que possibilidades?”; “E se precisasses de 15 dias?”; “Ser a referência de si próprio?”; “O que estás disposta a deixar para ir embora?” e “Uma coisa que não fizeste, mas que querias fazer?” deixam um lastro na géstica da intérprete que nos convidam a refletir sobre questões de saúde mental no geral e do PHDA (Perturbação Hiperativa e Défice de Atenção) em particular, sobretudo no que concerne ao processo criativo e às questões associadas ao espectro do autismo. Tocar no fantasma, mexer na ferida, falar do que nos é desconfortável. Procurar sentidos e novas formas de conviver. Usar o corpo, usar a palavra, demonstrar, mascarar e fazer. Ter um quotidiano marcado por pequenos rituais que se vão repetindo. Até ao próximo hiperfoco. Até ao próximo interesse. Até uma próxima criação. Neste espaço de reflexão e repetição procuramos mais perguntas que nos vão alimentando o processo, sem nunca exigir uma resposta, mas sim abrindo possibilidades de novos olhares e novas potencialidades na forma como a neurodivergência é entendida nas artes performativas. BIO Formada como Intérprete de Dança Contemporânea na Balleteatro Escola Profissional, Porto (2012-2015), participou também na Formação Avançada em Interpretação e Criação Coreográfica na Companhia Instável, Porto (2016), e frequentou um semestre na Escola Dansarte, Patras, Grécia (2017). Concluiu o Programa Avançado de Criação em Artes Performativas 3, com curadoria de Vânia Rovisco, no Fórum Dança, Lisboa (2019), e, mais recentemente, ingressou no Curso Profissional de Produção Cultural do Instituto de Produção Cultural e Imagem, Porto (2021-2022). Estagiou na Companhia de Dança Quorum Ballet (2016) e recebeu bolsas de estudo em diversos eventos e formações, sendo aluna bolseira no Estúdio B (2012-2015), nas duas edições do Symposium de Práticas Artísticas e na Escola Dansarte (2017), na Formação Ecos do Futuro do Balleteatro Contemporâneo do Porto (2018) e na Escola de Verão do Festival Materiais Diversos (2019). Enquanto bailarina destaca "Mysterium Coninctionis" (2018) de Joana von Mayer Trindade, "O Melhor do Mundo", "Iniciação" (2021) “Alba” (2023) para o Ballet Contemporâneo do Norte, "A Viagem do Rei” filme de Roger Mor e João Pedro Moreira, "O meu primeiro Corpo" (2022), uma criação da Estrutura, em coprodução com o Ballet Contemporâneo do Norte. Em 2022 desempenhou o papel de produtora e artista convidada no RE=INICIAR Encontro de Artes Performativas do Ballet Contemporâneo do Norte. Como intérprete e criadora, destaca "Sahasrara-Lótus de Mil Pétalas" (2016), "Ophelia-Machine" (2019), "Bleak" (2021), e as co-criaçãoes "Não Vamos Mudar Nada (título momentâneo)" (2021), com Guilherme Barroso, e "Ensaio para o Eclipse Emocional" (2022), com Diogo M. Santos.Além de sua carreira artística, Filipa dedica-se à produção cultural desde 2016, colaborando com estruturas como Circular-Festival de Artes Performativas e Ballet Contemporâneo do Norte. No que toca ao ensino artístico, iniciou o seu percurso no Espaço T no atelier de dança inclusiva, com o qual estreia uma peça anualmente no Corpo Evento - ciclo de espetáculos em teatro e dança. Atualmente, leciona técnica de dança contemporânea, ballet clássico, e sessões de improvisação e criação em diversas academias e instituições. \\\ Henrique Furtado Vieira | Morrer Pelos Passarinhos | 17:00 Praça Morrer Pelos Passarinhos visa encontrar formas de partilhar significativamente com o público o fim de um mundo conforme o fomos conhecendo e de lembrar a força de que em coletivo se pode expressar o não sentido, o ser humano dissecado pela desordem do mundo, expresso no seu luto, contrariando a naturalidade com que aceitamos a sua degeneração. Uma coleção de rituais fúnebres que nos possam confrontar com o vazio, com o medo, com a desumanização, mas principalmente uns com os outros. A coleção de performances Morrer pelos Passarinhos será apresentada na 6ª edição da MAPS - Mostra de Artes Performativas de Setúbal no dia 13 de julho, n’A Gráfica - Centro de Criação Artística. As performances variam em forma, disciplina, dimensão e espaço, perseguindo a identidade coletiva do “público”, procurando ativá-la e tornando-a indispensável, reivindicativa da sua relação com um espaço que lhe foi sempre principalmente dedicado: o espaço de cena. BIO Formado em engenharia de energia e meio ambiente, atualmente bailarino, performer e coreógrafo, Henrique Furtado Vieira vive em Lisboa. Efectuou a sua formação artística em várias instituições francesas (INSA de Lyon, Extensions – CDC de Toulouse, Prototype II e Dialogues III – Abadia de Royaumont). Desenvolve a sua prática artística principalmente entre a criação coreográfica e a colaboração como intérprete com vários artistas tais como Bleuène Madelaine, Eric Languet, Aurélien Richard, Céline Cartillier, Tino Sehgal, Salomé Lamas, André Uerba, Sofia Dias & Vítor Roriz, Ana Renata Polónia, Vera Mantero, Boris Charmatz e Tania Soubry. Pontualmente dedica-se à investigação, à pedagogia e à escrita em relação com a dança, em diferentes contextos e através de múltiplas parcerias (O Rumo do Fumo, Unlock Dancing Plaza, Ballet Contemporâneo do Norte, festival END, Comédias do Minho...), e mais recentemente tem estado envolvido como dramaturgista nas coreografias de Nicolas Hubert (Compagnie Épiderme) e de Giulia Arduca (Compagnie Ke Kosa). Os seus trabalhos são frequentemente criados em sinergia com outros artistas como em Bibi Ha Bibi, com Aloun Marchal, ou em Stand still you ever-moving spheres of heaven, com Chiara Taviani. Nos seus espectáculos / performances destaca-se a sobreposição de estilos e de géneros, a presença vocal na dança e o(s) espaço(s) da imaginação. Tem colaborado e apresentado o seu trabalho em instituições como Aerowaves, CDC Toulouse, Festival Roma Europa, Teatro Municipal do Porto, Festival Temps d’Image, Espaço do Tempo, CCB, entre outros. \\\ Fernando Mota | Concerto para uma árvore | 19:00 Praça Concerto para uma Árvore marca o início de um ciclo de criações no qual têm sido desenvolvidos objectos de naturezas diversas, como o filme 7 Poemas para um Mundo Novo, o espectáculo multidisciplinar Passagem Secreta ou o livro-cd Instrumentária Poética, que deu o nome a esta fase criativa. Este ciclo caracteriza-se pelo desenvolvimento de instrumentos musicais experimentais e objectos sonoros a partir de árvores, ramos, rochas e outros elementos naturais e por uma pesquisa musical, visual e temática a partir destas matérias. Em Concerto para uma Árvore Fernando Mota utiliza alguns destes instrumentos musicais para criar um espectáculo ritualista e exploratório que tem sido apresentado nos mais diversos espaços. Além da birdCAGE e da Ramira, grande parte do Concerto centra-se no instrumento criado a partir de um carvalho, recolhido numa limpeza de terrenos na Serra de Montemuro no início de 2020, no qual foram esticadas cordas entre os ramos e pendurados sinos no lugar de folhas. Concerto para uma Árvore é decididamente o espectáculo de Fernando Mota mais versátil em termos de público ou espaço, tendo sido apresentado nas mais diversas circunstâncias desde um dos auditórios da Gulbenkian até à igreja de Cem Soldos (Festival Bons Sons), passando por teatros, praças, galerias, claustros e bosques escondidos. BIO No seu percurso tem vindo a desenvolver uma linguagem multidisciplinar, juntando a música, o teatro, as artes visuais e a poesia na criação de objectos de naturezas diversas como espectáculos, instalações, filmes e edições várias. O seu universo resulta do cruzamento de diversas linguagens, geografias e ferramentas bem como da constante exploração sonora e da construção de instrumentos experimentais e objetos sonoros a partir de materiais diversos. Compõe regularmente música para teatro, dança e cinema de animação, tendo colaborado com diversos diretores, companhias e produtoras. No início de 2020 começou um ciclo de criações à volta de instrumentos musicais e objectos sonoros construídos a partir de árvores, pedras e outros elementos naturais. O primeiro dos objectos a ser criado foi o Concerto para uma Árvore, seguido por 7 Poemas para um Mundo Novo, um conjunto de sete curtas metragens que dirigiu com o realizador Mário Melo Costa, a partir de textos inéditos de Andreia C. Faria, António Barahona, Joana Bértholo, José Luís Peixoto, Marcos Foz e Vasco Gato e um poema de Mário Cesariny, inspirados na pandemia e no Mundo que virá a seguir. Em 2021 estreou o espectáculo multidisciplinar Passagem Secreta, com texto de Vasco Gato e videos de Mário Melo Costa, a partir da pesquisa acerca do sistema de comunicação das árvores através das raízes e dos conceitos de pertença e comunidade. E em 2023 dirigiu do Princípio do Mundo, um projecto criado em sete residências artísticas em diferentes regiões de Portugal, que cruza a música e a pesquisa sonora com as artes visuais, resultando num concerto, numa instalação audio-visual e num passeio sonoro em cada um dos sete locais. Cada um dos objectos será desenvolvido a partir da pesquisa dos elementos naturais de cada local, segundo o método de composição Sursum Corda, inspirado pela teoria pitagórica da Harmonia das Esferas e pela expressão Nada Brahma, dos Vedas indianos, que pode ser traduzida por traduzida por "o Mundo é Som”. Neste momento encontra-se a desenvolver na Fundação Serralves o projecto CORPO | uma topografia sonora, uma instalação sonora interactiva criada a partir de materiais recolhidos no Parque de Serralves \\\ Colectivo Suspeito | Ultrassom | 21:30 Blackbox Ultrassom é um projecto de cruzamento disciplinar entre dança, música e artes visuais. Surge da colaboração entre o Colectivo Suspeito, Maria R. Soares e Ricardo Nogueira Fernandes. Diversos animais utilizam as frequências ultrassónicascomo forma de navegação, detectando rotas, alimentos e perigos vários. Com base nessa observação, também os humanos desenvolveram as suas próprias fórmulas de mapeamento e navegação espacial a partir deste tipo de sons. A mesma matéria sonora serve como forma de mapear-nos a nós mesmos, ser biológico, percorrendo e visualizando o nosso corpo interior, ao converter ondas sonoras em imagem em tempo real, através de um eco que procura, analisa, diagnostica e até trata. Esta relação directa entre vibração sonora e imagem, através de uma interacção entre corpo biológico e tecnológico, e, mediada por estímulos eléctricos, será a base desta criação, trabalhada e mostrada neste encontro enquanto processo de trabalho aberto. BIO Suspeito é um colectivo artístico formado pelo designer e engenheiro João Dias-Oliveira e pelos arquitectos Nuno Mota e Rossana Ribeiro. A sua produção surge principalmente sobre a forma da instalação e da cenografia, imbuída de uma carga muitas vezes performática. O colectivo pretende assumir-se como uma prática artística que trabalha as relações de interdependência entre obra, receptor e espaço, podendo o enfoque do trabalho cair mais sobre uns ou outros. Maria R. Soares , bailarina e coreógrafa que trabalha na criação de novos dispositivos que interseccionam coreografia, performance e sonoridade, ativados por dinâmicas de conflito, dissonância, intimidade e afeto. Ricardo Nogueira Fernandes , nascido no Porto, a par do trabalho de arquitectura e desenho, desenvolve um percurso musical que procura a relação entre som, espaço e corpo. \\\ Vinicius Massucato | окрошка: okroshka | 22:30 Blackbox Viveremos em uma sociedade de perigos, com, de um lado, aqueles que estão em perigo, e de outro, aqueles que são perigosos. Os atos de prazer se converterão no ponto central no exame de um sujeito. A partir do surgimento das aborrecidas madrugadas da burguesia vitoriana, a sexualidade é encerrada. Retira-se para dentro dos aposentos dos pais. A família a sequestra. Os gemidos se calam, o sexo emudece. Tudo que for considerado anormal ou insuportável será punido. Faz-se a lei da obediência, e através da lei se trespassa o corpo, pela confissão da carne. Rezemos, assim, a missa da nossa sexualidade. BIO Vinicius Massucato (São Paulo - Brasil, 33 anos, ator). Começou no teatro sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Trabalhou com diversos artistas de destaque na cena contemporânea das artes visuais brasileira como Erika Verzutti e Leda Catunda. Colaborou com artistas portugueses e internacionais como Angélica Liddell. É estudante de Filosofia, vive e trabalha em Portugal desde 2016.
- RE=INICIAR | Dia # 5
"VOID VOID VOID" de Maria R. Soares & Antonio Marotta e "DRAG (on)" de Mariana Tengner Barros, trabalhos apresentados no Palco do Cineteatro António Lamoso no dia 5 de novembro de 2022. iPhone pics de Rogério Nuno Costa. Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Quinto dia Aquecimento. ["Experiência 01", instalação interativa do Colectivo Suspeito habitada/ativada pelxs artistas do RE=INICIAR | Encontro de Artes Performativas. Black Box do Imaginarius Centro de Criação, 5 de novembro de 2022.] - - - Maria R. Soares e Antonio Marotta exploram som e movimento. A proposta é criar “paisagem onde som, espaço e gesto se diluem numa só matéria, numa invocação aos grandes vazios cósmicos. Vazio como potencial lugar não rígido onde o inesperado pode tomar forma e revelar-se.” O dispositivo proposto coloca Maria a comunicar através de dois media: o seu corpo e o movimento do seu corpo que provoca um som. Isto leva-nos a meditar sobre as potencialidades de movimento e som, remetendo para um ambiente contemplativo sem forma. Uma espécie de voltar à caverna onde o gesto primitivo não se esgota em si mesmo, mas deixa um lastro sonoro com uma determinada qualidade. Um espaço que reverbera no público de diferentes formas. Um objeto que não pretende ser mais do que é: um exercício de expansão do medium som aliado à géstica da dança, e cujo resultado não é um fim, mas um processo. Pequena pausa. "VOID VOID VOID" de Maria R. Soares & Antonio Marotta, excerto filmado por Rogério Nuno Costa. Cineteatro António Lamoso, 5 de novembro de 2022. Mariana Tengner Barros surge em cena. Sentimos uma conexão. Sentimos que não há uma vontade de binarizar. Tudo é fluido, tal como o movimento do saco. O som do saco, é também ele uma ode. Há o gesto de Mariana. A cor do espaço cénico. Uma canção. A pretensão é ser uma ode e a criadora surge-nos como uma criatura marítima que transmite melodias. Será a letra importante? Quererá remeter para um espaço aquático do futuro? A criadora indica que são “práticas de estados de espírito e a sua relação com o estado das coisas.” E nós estamos com ela. Nessa exploração, nessa expansão. Já não é apenas dança. Isto podia ser um número de uma drag queen. Ou podia ser outro local qualquer. É sobre transformação. Sobre constante devir e ser. Liberta. E liberta os outros dos fardos da interpretação. No fim, o melhor: um Adeus Performativo. "DRAG (on)" de Mariana Tengner Barros, excerto filmado por Rogério Nuno Costa. Cineteatro António Lamoso, 5 de novembro de 2022. Diogo Sottomayor Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (5 de novembro de 2022). Artistas: Maria R. Soares, Mariana Tengner Barros e Pan.demi.CK. Espaços: Palco e Café-Concerto do Cineteatro António Lamoso. Batida Contemporânea do Nós Live act eletrónico de música de dança por Pan.demi.CK "Batida contemporânea do Nós" é uma peça de dança tocada. Tocada por vozes distantes e instrumentos pêrros do passado destas terras lusas. Tocada por vozes tribais e hipnóticas sobre ritmos de percussão ritualistas de terras distantes e variadas cronologias cósmicas. Tocada por uma máquina mecânica e robótica que serpenteia os graves por entre as frestas de uma rave ilegal, reincendeando a alma de memórias futuristas de um passado belo e pagão. Uma peça de dança em que os bailarinos são tu... somos nós... é a liberdade de quem ousar dançar num acto de rebeldia, fintando assim, desmanchando e reconstruindo uma versão melhor deste sistema operativo que nos controla... Transcender na pista de dança é uma obrigação num mundo que nos nos força à apatia. Dancemos Nós o passado e o futuro a esta batida contemporaneamente agora. "Batida Contemporânea do Nós" live act de Pan.demi.CK (Jonny Kadaver), excerto filmado por Rogério Nuno Costa. Cineteatro António Lamoso (Café-Concerto), 5-6 de novembro de 2022. "VOID VOID VOID" de Maria R. Soares & Antonio Marotta e "DRAG (on)" de Mariana Tengner Barros. Registo fotográfico da responsabilidade do Cineteatro António Lamoso, 5 de novembro de 2022:
- RE=INICIAR | resumo
Artwork © Jani Nummela RE=INICIAR Não outra vez, mas de novo Com produção e curadoria do Ballet Contemporâneo do Norte, o Encontro de Artes Performativas terá a sua primeira edição em Novembro de 2022, trazendo à cidade de Santa Maria da Feira um conjunto eclético de criadores, intérpretes, formadores e pensadores da Dança, da Performance, do Teatro, das Artes Visuais, da Música, dos Cruzamentos Disciplinares e do Pensamento para a partilha de conhecimento técnico e teórico entre pares e em colaboração com o público local. Vários espaços da cidade serão ocupados com performances, apresentações de trabalhos em progresso, workshops, exposições, concertos, palestras e residências, propondo uma semana de encontros pluri-disciplinares e inter-relacionais entre as várias tipologias de públicos e as práticas artísticas contemporâneas de natureza híbrida e experimental. O programa pretende assim confrontar a prática, a investigação, a educação, a curadoria e a edição artísticas com outras áreas paralelas à criação, convocando olhares de agentes do jornalismo e da crítica, mas também do pensamento científico, filosófico e antropossociológico, numa plataforma plural de contribuições que se interligam e complementam, propondo uma reflexão holística sobre várias problemáticas que afetam o mundo contemporâneo. Em contra-corrente a uma lógica programática próxima da ideia de “festival”, o Encontro de Artes Performativas lança-se na imaginação e na experimentação de colaborações estratégicas para a criação de projetos duracionais de dinâmica participativa, ambicionando uma ética laboral e interpessoal capaz de criar contextos de trabalho des-hierarquizados e horizontais. O programa propõe uma observação crítica da criação-investigação contemporânea enquanto utopia pluralista e multicultural, abraçando as potencialidades sociais e políticas da arte, assim procurando uma contaminação da criação coreográfica por metodologias, práticas e discursos oriundos de outras disciplinas artísticas. Os criadores convidados serão desafiados a questionar, rever, expandir e solidificar as temáticas, as práticas, as operações documentais e os formatos de investigação que fazem parte do seu universo criativo. RE=INICIAR é o mote que atribuímos à primeira edição do Encontro de Artes Performativas, conceito operacional cuja origem recua ao ano de 2020, quando o Ballet Contemporâneo do Norte lança uma convocatória de natureza emergencial com o objetivo de fazer frente às dificuldades económicas que o setor das artes enfrentaria com a primeira vaga da pandemia. A chamada resultou na seleção de um grupo de criadores, intérpretes, formadores, investigadores, técnicos e produtores das várias áreas artísticas, que haveria de produzir e apresentar trabalhos performativos pensados para o contexto online. Na medida exata das circunstâncias de absoluta excepção que rodeou o processo de partilha, o projeto juntou num website um conjunto de pequenas “iniciações” para projetos por vir, fabricadas em regime de colaboração por agentes que nunca haviam trabalhado com o Ballet Contemporâneo do Norte. À distância de dois anos, queremos continuar a alimentar a poderosa fragilidade que nos uniu em Abril e Maio de 2020. Aos participantes de 2020 juntar-se-ão outros artistas e colaboradores pessoal e profissionalmente próximos do nosso trabalho. Uma nova (RE=)Iniciação, que é também uma procura (sempre nova) de impulsos outros para melhor podermos e sabermos estar-juntos. Ou como voltar a potenciar a conexão emocional em tempos de (pós-)distanciamento social. Rogério Nuno Costa Artwork © Jani Nummela Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Re=iniciar. Re=fazer. Re=imaginar. Re=encontrar. A organização e curadoria do Ballet Contemporâneo do Norte trouxe a Santa Maria da Feira um conjunto de 24 artistas que se espalharam pelos espaços convencionais e não convencionais da cidade – e alguns deles, em mais do que um espaço – mas isso será discutido mais à frente. Isto não é um olhar exaustivo sobre todos os trabalhos, não é uma crítica, e também não é uma memória descritiva, nem tem a pretensão de o ser. Este texto é uma reflexão de alguém que esteve presente neste encontro e que procura, aqui, neste espaço, com esta distância temporal, um olhar de novo para o que ficou, o que aconteceu. O encontro de tantas visões artísticas poderia resultar apenas numa cacofonia de ideias, porém, tal não aconteceu. O espaço de generosidade que cada artista propôs demonstrava que a ideia deste re=iniciar não era apenas uma repetição ou representação, mas sim uma oportunidade de re=ativar uma nova forma de fazer, um novo olhar, passado este tempo sobre a pandemia que, a cada dia, parece mais distante. Sendo isto uma reflexão pessoal de um observador externo, proponho ao leitor um contrato de ficção. Levarei quem quiser caminhar textualmente comigo por estas memórias. Porém, para que a relação resulte, preciso que algumas vulnerabilidades fiquem expostas, pelo que tenho de as mostrar antes de começarmos esta caminhada: Há performances que não consegui ver: Miguel Pereira, Mariana Barros, Nélson d’Aires e Henrique Fernandes. Há performances que não vi porque participei nelas. E ver de dentro não é o mesmo do que ver de fora. Há performances onde estão antigos professores, amigos de longa data e ex-colegas de faculdade. Há performances que não ouvi. Vi entendimentos performativos de quem a ouviu. Há performances cuja construção vi de fora, mas que no dia da apresentação mergulhei com essas pessoas dentro. Há performances onde depois tive acesso ao texto e outras onde apenas tenho a memória do que foi dito. Há performances que considero que não devo escrever sobre elas. Não temos de nos ligar a tudo o que vemos. Cada gesto deste encontro é arte e a arte é subjetiva. Como tal, não quis criar uma ligação artificial. Dito isto, podemos começar, espero que estejam confortáveis. Encontramo-nos no ponto 9. Artwork © Jani Nummela Primeiro Dia Marina Leonardo convoca-nos através de uma coreografia simples: “Cicatriz. Andar. Queda. Dança”. E ocorrem uma série de encontros, despedidas, procuras e gestos que nos levem a esse estado de espírito. A construção de algo que, tal como a cadeira da verdade, pode ser verdadeira ou não, essa cadeira é apenas um dispositivo, que nos mostra que o ato de partilhar é mais importante do que saber se é verdade ou não. Uma história não se esgota no seu grau de veracidade. Pausa para almoço. Depois, o encontro com a instalação de Miguel Refresco: “Porque é que aqui o guardanapo é de pano e temos de o colocar no colo? Com alguma relutância, posso dizer-te que há locais onde devemos agir com formalidade e convencionou-se que nestes contextos, sendo de pano, o guardanapo havia de estar sobre as pernas”. Aqui, já sentados, podemos refletir sobre convenções sociais enquanto os elementos naturais a enformam. A areia não é apenas areia. A luz do sol, tal como as convenções, também desaparece quando já não é necessária. O texto desta instalação remete-nos para um quotidiano ao mesmo tempo que há uma partilha de alguém que detesta mesas na diagonal nos cafés. É hora de levantar, preparar as sapatilhas e levar cimento. Mudança de media. Já não estamos numa sala de ensaio. Já não é uma galeria de um museu. Carminda Soares, no seu audiowalk, começa: “Construir um bunker dentro da minha cabeça. Bem lá no fundo do cérebro, um bunker. Podem tocar à campainha, gritar, chamar por mim, estou dentro dum bunker. Dentro da minha cabeça ninguém me encontra.” E daqui, o público é convidado a correr pelas ruas da cidade, enquanto o texto é sussurrado a cada um durante o percurso. Passam pelo estádio com luz rosa para auxiliar no processo de crescimento da relva, passam pela tendo do circo, passam pelas traseiras do circo até à camioneta, que os leva de volta ao ponto de encontro. Carminda leva o seu público atrás dela a correr, e o texto corre nos ouvidos dos espetadores. A mistura das ruas da cidade e dos locais por onde passam leva o público, aquele coletivo, à exaustão. O texto, também ele, repercute a exaustão, terminando: “Há um sistema de poder em todas as parte do mundo. Uns acima dos outros. Mortes que valem menos que outras”. A camioneta chegou. Da camioneta passamos para a cadeira. E da cadeira Catarina Real termina o primeiro dia com a apresentação do seu livro. Livro esse que parte para a construção experimental de uma narrativa através de recortes de uma coleção de suplementos culturais do Ípsilon, suplemento do jornal Público. Recortes que a autora partilha, agora em livro, mas cuja composição permite novas leituras; um trabalho que evoca, numa certa medida, a obra de Ana Hatherly, deixando-nos olhar para o texto de uma forma mais experimental, numa combinação de palavras para criar uma outra coisa que vai para além do seu significado. - - - Artwork © Jani Nummela Segundo Dia Manhãs. As manhãs deste encontro, a partir daqui, repetem-se até ao dia da apresentação do produto “final” , no domingo, com Daniel Pizamiglio. Olhar externo. “Olhar para o outro como se fosse a primeira e a última vez”, propõe Daniel Pizamiglio. As pessoas dançam. Eu escrevo. Sobre. Sobre diferença do outro. Sobre dois encontros. Um em 2009 e outro em 2019. Sobre composição em tempo real. Sobre olhar como se fosse a primeira vez. Sobre olhar como se fosse a última vez. Sobre repulsa. Sobre novas formas de estar-juntos. O que é olhar para as coisas como se fosse a última vez? Um encontro de partilha, papel e caneta. Pausa para almoço. O próximo encontro é sobre colecionar. [Colocar a música "Lambada", de Kaoma, 1989] Pedro Augusto (arquivo 'Found Tapes' Porto): “Trata um conjunto de resíduos fonográficos derivados do suporte áudio-magnético, habitualmente designado por cassete, recoletados das ruas da cidade entre 2004 e 2019.” Durante a performance, escutamos alguns destes registos: a mítica música "Lambada" parece ser uma constante em várias das cassetes, mais naquelas que são encontradas na praia, na verdade, nas fitas encontradas pelo artista. Dentro do seu espólio: “Há músicas de diversos estilos e épocas, gravações caseiras, cursos de línguas ou até gravações de memory data, como jogos ou software.” A extensão da fita corresponde a um determinado tempo de gravação. A fita, nas mãos do público, é tempo sonoro gravado. Sons que persistem no tempo através da fita para poderem ser re=iniciados quando ativados novamente. Desligamos a música de Kaoma. Agora vamos jantar. Espectáculo da noite. Passamos para Banquete (Júlio Cerdeira): “Olhar sobre o corpo humano como matéria desantropomorfizada, um despir consecutivo da pele dos corpos, que a cada camada se mostram menos escurecidos e mais pigmentados.” Com efeito, o criador propõe uma nova visão sobre o corpo, nomeadamente através da justaposição de dois corpos. A influência de criadores como Marlene Freitas Monteiro e Dimitris Papaioannou no trabalho revela-se através de alguns gestos em cena. Uma proposta que torna a luz o elemento principal neste jogo do esconder–revelar, enquanto os dois corpos comunicam entre si e colocam em evidência a violência de um sobre o outro. - - - Artwork © Jani Nummela Terceiro Dia “O meu medo. Eu acho que não é um medo. Os nossos corpos não duram para sempre. Entre corpo e subjetividade. Entre subjetividade e tecnologia. Onde é que acaba uma coisa e começa a outra?” A nossa tarde começou com Joclécio Azevedo, numa espécie de tratado entre arte e tecnologia. Através do texto, em vários media, e criado de diversas formas, o criador questiona-se sobre a utilização da tecnologia em todas as dimensões da nossa vida. O interessante aqui é que o criador não dá respostas, mas faz perguntas. Questiona, junto de nós, e num movimento de proximidade – no final, a filmagem é apenas a sua boca enquanto diz um texto, também ele com o auxílio da tecnologia – uma alusão que poderíamos associar a Beckett, mas que, na verdade, é uma utilização da tecnologia em prol de um discurso que vai vivendo na peça. Como se não bastasse, Joclécio tem também uma proposta de expansão. O texto que é dito, e projetado, perde as suas características de informação, passando a cenografia; aliás, como defende Rachel Hann na sua obra sobre a cenografia expandida, podemos atestar que a cenografia, por vezes, não é palpável. As ideias e os pensamentos, apesar de terem um medium, não é obrigatório que sejam usados apenas de uma forma. - - - Artwork © Jani Nummela Quarto Dia O Coletivo Suspeito tinha como proposta: “um espaço liminar entre cumplicidade e contemplação”. Para tanto, através de aparelhos eletrónicos aplicados numa parte do corpo da pessoa que o quisesse utilizar, esse mesmo corpo, através do movimento, distância do recetor, e intensidade, criava uma paisagem sonora. Aqui, neste espaço, o criador convoca a sua coreografia, ou apenas movimentos que improvisa para os partilhar de forma externa e, de imediato, recebe um estímulo da máquina. A partir daqui, a relação é construída pela interação estabelecida entre quem mexe e a máquina que reage, por vezes em duplas, onde há uma nova camada, os dois corpos que interagem e criam um jogo, sendo certo que o olhar de ambos também é influenciado pela reação da máquina. Uma espécie de tradução de movimento para som. Universo que foi explorado por outra criadora, mas que não está neste dia. Por agora, resta-nos devolver o equipamento para irmos à multiversidade. Saída. Há uma coisa certa quando entramos num espaço criado por Rogério Nuno Costa: qualquer coisa pode acontecer. Aliás, para quem acompanha o seu trabalho, sabe que ele pode “ir a nossa casa”. Pode cozinhar para nós. Também pode aparecer noutras criações sobre festas de anos. Ou pode surgir como júri de um espetáculo sobre Eurovisão. Ou pode estar todo vestido de verde. Pode estar a falar, ou pode estar em silêncio. Pode apenas estar. Um trabalho dele não se esgota no texto, na forma ou no local. Rogério trabalha em qualquer lugar, e, por isso, nada melhor que estarmos, agora, num tempo qualquer. Podemos escolher se é agora, se será daqui a muitos anos, ou se até já foi num tempo passado (e encontramo-nos, agora, numa espécie de eco do passado). Rogério não tem a intenção de um tempo. A multiversidade ainda não tem espaço. Mas espera vir a ter. Mas não faz questão que tenha. A explicação é complexa, mas Rogério explica-a detalhadamente, numa autêntica tese; uma tese que, não obedecendo à série de formalismos que o ritual tese obriga, é então a especulação de uma tese. Mas na verdade é uma tese. Ele escreveu. Ele citou. Ele relacionou. E questionou. Até que ponto este “oficial”, este “académico”, este “a sério” vai ficar preso a uns monumentos brutos, que, como bem sabemos, estão podres? Tal como o rei vai nu, também sabemos que a universidade vai nua. E devemos continuar a perpetuar esta ideia de sabedoria centrada apenas num lugar? A autora norte-americana Michelle Visage é peremptória: "Não". A universidade não pode continuar a aparecer em todos os locais como um pedaço de tecido. Porque é apenas isso. E um pedaço de tecido não é um vestido”. Tal como a universidade não devia ser apenas calças e gravatas; mas isto das roupas é muito mais complexo... Complexo é também o pensamento de Rogério (nota de rodapé: Isto é dito porque sim): “O texto que estou a ler é uma emanação, etérea e intangível, da tese que não vou, não quero, ou não posso ler, e projeta-se em várias direções temporais e emocionais: para trás dela, para a frente dela, para dentro dela. Nunca por causa dela. Nunca sobre ela. O avesso da tese”. Podem agora jogar pedra, tesoura e papel. Eu ajudo: na próxima jogada vou escolher papel. No meio do aleatório, pode saber bem uma certeza. Pausa para jantar e pensar. - - - Peça da noite. [Nota: neste espectáculo eu participei como intérprete. Portanto, o que vão ler a seguir não é um olhar de fora, exterior. É um olhar de dentro.] “Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar. As preocupações são aflições do espírito adaptadas à era capitalista. Não estamos mais preocupados com os devaneios, as angústias e com o mistério da existência. Nossas preocupações são as preocupações da agenda, se iremos ter aonde morar, se iremos ter onde dormir e se iremos ter o que comer. Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar.” Estas são as primeiras palavras que Vinicius Massucato entrega ao público. Eu espero. Ele parte a cadeira. Eu espero. Conheço o Vinicius há muitos anos. Mas hoje não o vejo de fora. Hoje é para performar com ele. Ele continua a falar. Há texto na tela. Conheço-o há tantos anos, já o vi fazer tanta coisa, e hoje estou aqui. À espera. Uma flor. Uma mochila. Um casaco. Chegou a deixa. O beijo aconteceu. O texto foi dito. A música acabou. No fim, alguns dos primeiros comentários são sobre o beijo. Perguntei-me, assim como quem não quer a coisa, quantas vezes vi beijos normativos em cena serem tão comentados. Não me recordo de nenhum. Duas pessoas lidas como homens em cena a beijarem-se, parece, ainda, ser necessário. É um ato político. - - - Artwork © Jani Nummela Quinto Dia Maria R. Soares e Antonio Marotta exploram som e movimento. A proposta é criar “paisagem onde som, espaço e gesto se diluem numa só matéria, numa invocação aos grandes vazios cósmicos. Vazio como potencial lugar não rígido onde o inesperado pode tomar forma e revelar-se.” O dispositivo proposto coloca Maria a comunicar através de dois media: o seu corpo e o movimento do seu corpo que provoca um som. Isto leva-nos a meditar sobre as potencialidades de movimento e som, remetendo para um ambiente contemplativo sem forma. Uma espécie de voltar à caverna onde o gesto primitivo não se esgota em si mesmo, mas deixa um lastro sonoro com uma determinada qualidade. Um espaço que reverbera no público de diferentes formas. Um objeto que não pretende ser mais do que é: um exercício de expansão do medium som aliado à géstica da dança, e cujo resultado não é um fim, mas um processo. Pequena pausa. Mariana Tengner Barros surge em cena. Sentimos uma conexão. Sentimos que não há uma vontade de binarizar. Tudo é fluido, tal como o movimento do saco. O som do saco, é também ele uma ode. Há o gesto de Mariana. A cor do espaço cénico. Uma canção. A pretensão é ser uma ode e a criadora surge-nos como uma criatura marítima que transmite melodias. Será a letra importante? Quererá remeter para um espaço aquático do futuro? A criadora indica que são “práticas de estados de espírito e a sua relação com o estado das coisas.” E nós estamos com ela. Nessa exploração, nessa expansão. Já não é apenas dança. Isto podia ser um número de uma drag queen. Ou podia ser outro local qualquer. É sobre transformação. Sobre constante devir e ser. Liberta. E liberta os outros dos fardos da interpretação. No fim, o melhor: um Adeus Performativo. - - - Artwork © Jani Nummela Sexto Dia (e último) Olhar interno. Se num primeiro momento elas dançavam e eu escrevia, hoje foi dia de dançar com estas pessoas: Daniel, Susana, Carminda, dois Diogos e Andresa. Numa pequena apresentação sobre o resultado final do workshop conduzido pelo Daniel Pizamiglio ao longo de toda a semana do Encontro, o nosso objetivo tinha uma pequena partitura: desconhecido, check in do nosso dia, procurar o outro. Foi sobre partilha dos corpos e sobre desconhecer esse mesmo corpo. Foi sobre gestos, foi sobre lembrar e esquecer, e voltar a aprender esses mesmos gestos. Foi sobre seis corpos que partilham um espaço expandido com o público, e vão procurando e esquecendo, até chegarem a uma conclusão, rítmica, onde a conexão entre os corpos parece evidente. Pausa. Tiago Rosário, através da instalação vídeo "R-RE-RES-REST-RESTA-RESTAR-RESTART", coloca uma série de imagens em relação e em repetição. Uma clara alusão à forma como as notícias são dadas, mastigadas, e repetidas novamente. “Quantas vezes veremos algo? Quantas vezes veremos algo novo? Quantas vezes veremos algo novo novamente?” E a nossa experiência enquanto público, junto de símbolos tão fortes (como os quadrados com imagens em movimento do Zoom e a memória da pandemia), é de refletir sobre os papéis dos media na era da (des)informação. Sobretudo, tendo em conta o cariz e o aproveitamento de algumas notícias, a pergunta é mesmo essa: quantas vezes veremos algo novo (mas que é o mesmo) novamente? Pausa para almoço. Corpo acusa algum cansaço. Assim que Filipa Duarte surge em cena há uma coisa inegável: a presença da criadora é avassaladora. Dotada de uma técnica e géstica da dança irrepreensível, Filipa consegue ir mais longe e mostrar também um lugar de partilha e vulnerabilidade. Utilizando açúcar, flores e objetos do cotidiano, ao mesmo tempo que estende uma grande folha em branco à frente dxs espetadorxs, Filipa permite que o público se inscreva naquele espaço. Um objeto cénico que está em devir e transformação constante. O trabalho é especialmente curioso, porque se tratar de alguém que esteve a desempenhar funções de produção para o Encontro, ao mesmo tempo que preparava esta apresentação. E, nessa contaminação de dois mundos, vamos entendendo um pouco melhor o entendimento de Vânia Rodrigues (uma das pensadoras ativas da produção em Portugal) sobre o conceito de produção-criativa. Filipa demonstra que os papéis de bailarina, criadora e produtora não são estanques. Ela consegue, através daquela mesma folha em branco, demonstrar que (re)imaginar a nossa história ou criar narrativas é um exercício amplo, e que pode ele também ser partilhado: “Quero realmente dizer alguma coisa mas, por medo, oculto a última palavra porque não tenho coragem de a exteriorizar e culpo a falta de tempo com um descaramento cobarde. E quanta impertinência eu escrever isto. Para depois o dançar. Ou depois de o dançar. Ou a dançar.” Pausa. O trabalho de Andresa Soares deu-me luta no processo da escrita. Tinha muitas questões: Escrevo só a partir do que vi? Escrevo depois de ler o texto que era dito aos performers que atuaram para nós? Como posso escrever sobre pessoas que estiveram a semana toda a conviver connosco, cada uma no seu universo, e agora se justapõem para criar a peça da Andresa? A resposta demorou, mas chegou. Escreverei a partir da visão e não do texto. A escrita não leu o texto. Foi uma decisão. Vários são os criadores que estão aqui: Susana Otero, Miguel Pereira, Rogério Nuno Costa, Filipa Duarte, Daniel Pizamiglio, Diogo M. Santos, Margarida Montenÿ, Maria R. Soares, Carolina Canteli. Quase todos são participantes do Encontro; quem viu os seus trabalhos, sabe quão diferentes são os universos criativos de cada um. E isso traz camadas à visualização esta performance: conhecer o trabalho de cada participante e ver, agora, como o mesmo estímulo textual pode trazer resultados tão distintos àqueles corpos. É irrelevante a questão da distinção entre performer, bailarino, atriz... Na verdade, não há etiquetas aqui. A experiência estética do objeto baseia-se numa suspensão da crença: acreditamos que todos os áudios estão sincronizados e que, muito provavelmente, cada uma das pessoas que ouve se esquece que tem um público. No final, fica a dúvida sobre a duração do dispositivo, mas a certeza que os participantes foram muito generosos no seu contributo. Pausa. Último trabalho. Uma sala cheia de cadeiras. Uma sala cheia de cadeiras e Valentina Parravicini está lá. Uma sala cheia de cadeiras e Valentina vai nomeando cada uma das cadeiras. Seguindo a pergunta “o que faz uma bailarina quando o coreógrafo não está presente?”, a criadora evoca uma série de memórias e leva-nos consigo para o seu universo criativo e para algumas das suas inquietações. Uma sala cheia de cadeiras. Uma instalação de cadeiras. A criadora dança. Ela monta. As cadeiras estão num limbo de equilíbrio. Ela dança. Há uma evocação de memórias e documentações que não são materiais. Há apenas uma sala cheia de cadeiras vazias. Ela dança. Ela terminou. - - - Diogo Sottomayor Artwork © Jani Nummela Álbum de Recordações (diário vídeo-fotográfico produzido pelo Colectivo Suspeito durante o Encontro) "ZAUMFLUX", de Henrique Fernandes (registo vídeo de Colectivo Suspeito, 2 de novembro de 2022) "Ensaio dirigido a...", de Andresa Soares (registo vídeo de Colectivo Suspeito, 6 de novembro de 2022) Artwork © Jani Nummela
- RE=INICIAR | Dia # 6
O início e o fim de "Ensaio dirigido a...", de Andresa Soares. Registo fotográfico de Alexandra Couto. Praça Central do Imaginarius Centro de Criação, 6 de novembro de 2022. Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Sexto dia, e último Olhar interno. Se num primeiro momento elas dançavam e eu escrevia, hoje foi dia de dançar com estas pessoas: Daniel, Susana, Carminda, dois Diogos e Andresa. Numa pequena apresentação sobre o resultado final do workshop conduzido pelo Daniel Pizamiglio ao longo de toda a semana do Encontro, o nosso objetivo tinha uma pequena partitura: desconhecido, check in do nosso dia, procurar o outro. Foi sobre partilha dos corpos e sobre desconhecer esse mesmo corpo. Foi sobre gestos, foi sobre lembrar e esquecer, e voltar a aprender esses mesmos gestos. Foi sobre seis corpos que partilham um espaço expandido com o público, e vão procurando e esquecendo, até chegarem a uma conclusão, rítmica, onde a conexão entre os corpos parece evidente. "Primeiro Nada, Depois Nada", apresentação informal do resultado do workshop conduzido por Daniel Pizamiglio ao longo de toda a semana do Encontro na Sala de Ensaios do Cineteatro António Lamoso. Com a participação de Susana Otero, Carminda Soares, Diogo M. Santos, Andresa Soares, Daniel Pizamiglio e Diogo Sottomayor. Música ao vivo de Usof (João Rochinha). Registo fotográfico e vídeo de Rogério Nuno Costa. Cineteatro António Lamoso (Palco), 6 de novembro de 2022. Pausa. Tiago Rosário, através da instalação vídeo "R-RE-RES-REST-RESTA-RESTAR-RESTART", coloca uma série de imagens em relação e em repetição. Uma clara alusão à forma como as notícias são dadas, mastigadas, e repetidas novamente. “Quantas vezes veremos algo? Quantas vezes veremos algo novo? Quantas vezes veremos algo novo novamente?” E a nossa experiência enquanto público, junto de símbolos tão fortes (como os quadrados com imagens em movimento do Zoom e a memória da pandemia), é de refletir sobre os papéis dos media na era da (des)informação. Sobretudo, tendo em conta o cariz e o aproveitamento de algumas notícias, a pergunta é mesmo essa: quantas vezes veremos algo novo (mas que é o mesmo) novamente? "R-RE-RES-REST-RESTA-RESTAR-RESTART", instalação-vídeo e Tiago Rosário no Foyer do Cineteatro António Lamoso, 4 a 6 de novembro de 2022. Registo fotográfico da responsabilidade do Cineteatro António Lamoso. Pausa para almoço. Corpo acusa algum cansaço. Assim que Filipa Duarte surge em cena há uma coisa inegável: a presença da criadora é avassaladora. Dotada de uma técnica e géstica da dança irrepreensível, Filipa consegue ir mais longe e mostrar também um lugar de partilha e vulnerabilidade. Utilizando açúcar, flores e objetos do cotidiano, ao mesmo tempo que estende uma grande folha em branco à frente dxs espetadorxs, Filipa permite que o público se inscreva naquele espaço. Um objeto cénico que está em devir e transformação constante. O trabalho é especialmente curioso, porque se tratar de alguém que esteve a desempenhar funções de produção para o Encontro, ao mesmo tempo que preparava esta apresentação. E, nessa contaminação de dois mundos, vamos entendendo um pouco melhor o entendimento de Vânia Rodrigues (uma das pensadoras ativas da produção em Portugal) sobre o conceito de produção-criativa. Filipa demonstra que os papéis de bailarina, criadora e produtora não são estanques. Ela consegue, através daquela mesma folha em branco, demonstrar que (re)imaginar a nossa história ou criar narrativas é um exercício amplo, e que pode ele também ser partilhado: “Quero realmente dizer alguma coisa mas, por medo, oculto a última palavra porque não tenho coragem de a exteriorizar e culpo a falta de tempo com um descaramento cobarde. E quanta impertinência eu escrever isto. Para depois o dançar. Ou depois de o dançar. Ou a dançar.” Pausa. "Pro/dutiv-ação" de Filipa Duarte. Registo fotográfico de Alexandra Couto. Black Box do Imaginarius Centro de Criação, 6 de novembro de 2022. O trabalho de Andresa Soares deu-me luta no processo da escrita. Tinha muitas questões: Escrevo só a partir do que vi? Escrevo depois de ler o texto que era dito aos performers que atuaram para nós? Como posso escrever sobre pessoas que estiveram a semana toda a conviver connosco, cada uma no seu universo, e agora se justapõem para criar a peça da Andresa? A resposta demorou, mas chegou. Escreverei a partir da visão e não do texto. A escrita não leu o texto. Foi uma decisão. Vários são os criadores que estão aqui: Susana Otero, Miguel Pereira, Rogério Nuno Costa, Filipa Duarte, Daniel Pizamiglio, Diogo M. Santos, Margarida Montenÿ, Maria R. Soares, Carolina Canteli. Quase todos são participantes do Encontro; quem viu os seus trabalhos, sabe quão diferentes são os universos criativos de cada um. E isso traz camadas à visualização esta performance: conhecer o trabalho de cada participante e ver, agora, como o mesmo estímulo textual pode trazer resultados tão distintos àqueles corpos. É irrelevante a questão da distinção entre performer, bailarino, atriz... Na verdade, não há etiquetas aqui. A experiência estética do objeto baseia-se numa suspensão da crença: acreditamos que todos os áudios estão sincronizados e que, muito provavelmente, cada uma das pessoas que ouve se esquece que tem um público. No final, fica a dúvida sobre a duração do dispositivo, mas a certeza que os participantes foram muito generosos no seu contributo. Pausa. "Ensaio dirigido a...", performance de Andresa Soares com a participação de Carolina Canteli, Daniel Pizamiglio, Diogo M. Santos, Filipa Duarte, Margarida Montenÿ, Maria R. Soares, Miguel Pereira, Rogério Nuno Costa e Susana Otero. Registo fotográfico de Alexandra Couto. Praça Central do Imaginarius Centro de Criação, 6 de novembro de 2022. Último trabalho. Uma sala cheia de cadeiras. Uma sala cheia de cadeiras e Valentina Parravicini está lá. Uma sala cheia de cadeiras e Valentina vai nomeando cada uma das cadeiras. Seguindo a pergunta “o que faz uma bailarina quando o coreógrafo não está presente?”, a criadora evoca uma série de memórias e leva-nos consigo para o seu universo criativo e para algumas das suas inquietações. Uma sala cheia de cadeiras. Uma instalação de cadeiras. A criadora dança. Ela monta. As cadeiras estão num limbo de equilíbrio. Ela dança. Há uma evocação de memórias e documentações que não são materiais. Há apenas uma sala cheia de cadeiras vazias. Ela dança. Ela terminou. Diogo Sottomayor "O Coreógrafo Não Está Aqui" de Valentina Parravicini. Apresentação informal após a residência de uma semana na Sala de Conferências do INATEL Feira. Registo fotográfico de Alexandra Couto e vídeo de Rogério Nuno Costa. 6 de novembro de 2022. Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (6 de novembro de 2022). Artistas: Daniel Pizamiglio, Filipa Duarte, Andresa Soares e Valentina Parravicini. Espaços: Cineteatro António Lamoso (Palco), Imaginarius Centro de Criação (Black Box e Praça Central) e INATEL Feira (Sala de Conferências). Sobre "Ensaio dirigido a..." de Andresa Soares por Alexandra Couto Sempre igual, sempre diferente e o público nunca farto. Tal como o melhor design é o minimal, também o melhor bailado pode ser o mais primário – sem música ou diálogos, sem passos definidos, sem guarda-roupa ou adereços. Naquele despojamento idealizado por Andresa Soares a partir de um set mínimo de instruções, há un petit peu de génio, expresso na liberdade que é permitida aos bailarinos, entregues unicamente ao seu instinto, bel-prazer e perícia. O desempenho do coletivo é totalmente absorvente e, dentro dele, cada desempenho individual é um solo próprio. Goosebumps all over, uma e outra vez. E então quando do silêncio se erguem aqueles poucos compassos do “Palladio” de Karl Jenkins… É a apoteose, a gratidão. Que privilégio inesperado foi ter assistido a esta manifestação de arte e humanidade. (Pronuncie-se à francesa: ) Bravo! BRAVO! BRA-VO! "Ensaio dirigido a..." de Andresa Soares. Registo vídeo de Alexandra Couto. Praça Central do Imaginarius Centro de Criação, 6 de novembro de 2022. "Primeiro Nada, Depois Nada" de Daniel Pizamiglio. Registo fotográfico da responsabilidade do Cineteatro António Lamos (6 de novembro de 2022):
- RE=INICIAR | Dia # 3
"Aqui e Agora", performance de Nelson d'Aires, Cineteatro António Lamoso (Palco), 3 de novembro de 2022. Fotografias © Cineteatro António Lamoso. Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Terceiro dia “O meu medo. Eu acho que não é um medo. Os nossos corpos não duram para sempre. Entre corpo e subjetividade. Entre subjetividade e tecnologia. Onde é que acaba uma coisa e começa a outra?” A nossa tarde começou com Joclécio Azevedo, numa espécie de tratado entre arte e tecnologia. Através do texto, em vários media, e criado de diversas formas, o criador questiona-se sobre a utilização da tecnologia em todas as dimensões da nossa vida. O interessante aqui é que o criador não dá respostas, mas faz perguntas. Questiona, junto de nós, e num movimento de proximidade – no final, a filmagem é apenas a sua boca enquanto diz um texto, também ele com o auxílio da tecnologia – uma alusão que poderíamos associar a Beckett, mas que, na verdade, é uma utilização da tecnologia em prol de um discurso que vai vivendo na peça. Como se não bastasse, Joclécio tem também uma proposta de expansão. O texto que é dito, e projetado, perde as suas características de informação, passando a cenografia; aliás, como defende Rachel Hann na sua obra sobre a cenografia expandida, podemos atestar que a cenografia, por vezes, não é palpável. As ideias e os pensamentos, apesar de terem um medium, não é obrigatório que sejam usados apenas de uma forma. Excerto de "Cartas de Recomendação", de Joclécio Azevedo. Filmagem de Alexandra Couto. Blackbox do Imaginarius Centro de Criação, 3 de novembro de 2022. Diogo Sottomayor Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (3 de novembro de 2022). Artistas: Joclécio Azevedo e Miguel Pereira. Black Box do Imaginarius Centro de Criação. Sobre "A Dança da minha História" de Miguel Pereira por Alexandra Couto Dizem que os melhores são também os mais humildes. É discutível, sobretudo quando o estômago não alinha em falsas modéstias e a investigação médica vem comprovando que a sanidade depende da (tendencialmente pouco apreciada) franqueza. A humildade pode, por isso, ser clinicamente desaconselhada. Sã mesmo, a sério, pode ser é a vaidade. Mas mesmo que essa seja justa, merecida e até racional, já a sua aprovação por terceiros é outra conversa, porque o reconhecimento externo do mérito depende sempre de análises subjetivas, tão aleatórias quanto o gosto pessoal. E é por isso que “A dança da minha história”, pelo bailarino e coreógrafo Miguel Pereira, tem a sorte de não precisar de críticas adjetivadas e de se bastar com os factos. Um facto, o primeiro, é que essa conferência-performance é a cronologia da carreira de um artista com mais de 20 anos de experiência. Outro facto é que esse artista assume aí em que medida foi influenciado e inspirado por colegas reais e por criadores afetos ao imaginário coletivo. Facto ainda mais evidente é que ele expõe os seus sucessos e fracassos com o público, numa narrativa sem peneiras e despojada daquela sonsice que são os pruridos de isenção ou magnanimidade. Miguel Pereira é quem é, gosta de quem gosta, quer o que quer e, pelo menos durante aquelas duas horas, parece passar bem sem a validação dos outros. Muitas conclusões se podem tirar daí. Mas a minha preferida é que este sneak peek aos bastidores da sua carreira é serviço público. Ser-vi-ço pú-blico. Este confessionário pessoal é a materialização literal, concreta e exata da «formação de públicos», essa expressão cliché e pastiche que, de tanto pontuar agora qualquer discurso de estratégia cultural, já perdeu sentido real e, na prática, soa a nada. O que Miguel Pereira ali fez foi, de facto, formar aquele público específico. Ensinou-lhe coisas, revelou-lhe técnicas e práticas, apontou-lhe riscos e oportunidades, admitiu medos e handicaps, deixou conselhos e avisos. Deu ao público mais conhecimento do que aquele com que o público lá chegou. Se foi politicamente correto ou não, elegante ou não, outro-adjetivo-qualquer ou não, que decida cada espectador e formando. Mas, the fact remains, Miguel Pereira prestou um serviço pedagógico àquela plateia e fê-lo com a generosidade de quem se expõe para ajudar os outros nos seus percursos e escolhas. “A dança da minha história” devia andar de porta em porta, de escola em escola, de associação cultural em associação cultural, a abrir os olhos a muita gente. Para uns saberem no que se metem quando decidem seguir uma vida de palco e outros perceberm o tanto que está por trás daqueles glamorosos e escassos minutos de cena. "A Dança da minha História", de Miguel Pereira; registo vídeo/fotográfico de Alexandra Couto na Black Box do Imaginarius Centro de Criação, 3 de novembro de 2022: Alexandra Couto Aqui e Agora Vê-se sempre a distância numa fotografia. Ela é o intervalo entre lugar e tempo: o lugar em que é feita e o tempo em que é dada a ver. Essa distância que é dada a ver é um salto, a sua presença permite a de outra coisa. “Aqui e Agora” é uma apresentação-performance de fotografias que Nelson d’Aires ensaia em palco a partir do arquivo fotográfico que criou entre 2021 e 2022 no território onde nasceu e viveu a maior parte da sua vida. Nelson d'Aires "Aqui e Agora", fotografias promocionais de Nelson d'Aires.
- RE=INICIAR | Dia # 2
"Primeiro Nada, Depois Nada", workshop de Daniel Pizamiglio, registo de Diogo Sottomayor (Sala de Ensaios do Cineteatro António Lamoso), 2.11.2022. Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Manhãs. As manhãs deste encontro, a partir daqui, repetem-se até ao dia da apresentação do produto “final” , no domingo, com Daniel Pizamiglio. Segundo dia Olhar externo. “Olhar para o outro como se fosse a primeira e a última vez”, propõe Daniel Pizamiglio. As pessoas dançam. Eu escrevo. Sobre. Sobre diferença do outro. Sobre dois encontros. Um em 2009 e outro em 2019. Sobre composição em tempo real. Sobre olhar como se fosse a primeira vez. Sobre olhar como se fosse a última vez. Sobre repulsa. Sobre novas formas de estar-juntos. O que é olhar para as coisas como se fosse a última vez? Um encontro de partilha, papel e caneta. "Primeiro Nada, Depois Nada", workshop de Daniel Pizamiglio, registo de Diogo Sottomayor (Sala de Ensaios do Cineteatro António Lamoso), 2.11.2022. Pausa para almoço. O próximo encontro é sobre colecionar. Colocar a música "Lambada", de Kaoma (1989): Pedro Augusto (arquivo 'Found Tapes' Porto): “Trata um conjunto de resíduos fonográficos derivados do suporte áudio-magnético, habitualmente designado por cassete, recoletados das ruas da cidade entre 2004 e 2019.” Durante a performance, escutamos alguns destes registos: a mítica música "Lambada" parece ser uma constante em várias das cassetes, mais naquelas que são encontradas na praia, na verdade, nas fitas encontradas pelo artista. Dentro do seu espólio: “Há músicas de diversos estilos e épocas, gravações caseiras, cursos de línguas ou até gravações de memory data, como jogos ou software.” A extensão da fita corresponde a um determinado tempo de gravação. A fita, nas mãos do público, é tempo sonoro gravado. Sons que persistem no tempo através da fita para poderem ser re=iniciados quando ativados novamente. Desligamos a música de Kaoma. - - - Agora vamos jantar. Taverna do Xisto, Santa Maria da Feira, foto de Rogério Nuno Costa, 2.11.2022. Espectáculo da noite. Passamos para Banquete (Júlio Cerdeira): “Olhar sobre o corpo humano como matéria desantropomorfizada, um despir consecutivo da pele dos corpos, que a cada camada se mostram menos escurecidos e mais pigmentados.” Com efeito, o criador propõe uma nova visão sobre o corpo, nomeadamente através da justaposição de dois corpos. A influência de criadores como Marlene Freitas Monteiro e Dimitris Papaioannou no trabalho revela-se através de alguns gestos em cena. Uma proposta que torna a luz o elemento principal neste jogo do esconder–revelar, enquanto os dois corpos comunicam entre si e colocam em evidência a violência de um sobre o outro. Fim do segundo dia. Diogo Sottomayor Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (2 de novembro de 2022). Artistas: Pedro Augusto, Henrique Fernandes e Banquete (Júlio Cerdeira). Espaços: Black Box do Imaginarius Centro de Criação e Cineteatro António Lamoso (Palco). Sobre "ZAUMFLUX" de Henrique Fernandes por Alexandra Couto Concebido especificamente para o Encontro de Artes Performativas do Ballet Contemporâneo do Norte, “Zaumflux” é um concerto, uma performance, um laboratório. As quase 20 peças que Henrique Fernandes distribui pelo chão, todas com aparência tosca e funções inicialmente indiscerníveis, fazem lembrar uma oficina de eletromecânica ou aeromodelismo, mas o que na penumbra mais têm em comum é que emitem sons e luz, tinem, reverberam, atuam, reagem. Nesse labirinto, o público identifica com dificuldade tábuas de madeira, molas de metal, cavilhas de cítara, um gira-discos, dois pratos de bateria, uma cuvette de cogumelos, barras de (agressiva) esferovite para executar com um arco de violoncelo... Nenhuma dessas peças, contudo, vale mais por si própria do que pela máquina em que se insere ou o conjunto que compõe. E é por isso que, abstraídos do individual, nos deixamos embalar por um coletivo de instrumentos inóspitos. Há momentos em que as frequências testadas agridem, como unhas a raspar num quatro de lousa, mas o que predomina é um som puro, que, embora com ritmo e uma certa e esparsa melodia, já é raro no quotidiano e pouquíssimas vezes se aprecia nesta simultaneidade de tempo e espaço, comodamente, no conforto de uma sala que permite olhos fechados sem que nos acusem de sono e desprezo. Chegando a ser calmante e hipnótico, inspirando recolhimento e meditação, o exercício sono-electro-magneto-luminoso de Henrique Fernandes é uma viagem parada. Tem gotas de chuva que caem do telhado para um balde de chapa, chamadas interrompidas no auscultador de um telefone fixo, o ronco do motor de um camião de caixa aberta, a campainha insistente da cancela do Vouguinha, a hélice discreta de uma avioneta, o chamamento melancólico de um amolador de facas, a conversa misteriosa das orcas, o sopro enigmático de um corno de osso nos fiordes. ■ Alexandra Couto - - - Registo vídeo-fotográfico de Rogério Nuno Costa durante a primeira visita ao espaço de trabalho/residência de Valentina Parravicini, na Sala de Conferências do INATEL (Santa Maria da Feira), 2 de novembro de 2022: - - -
- RE=INICIAR | Dia # 4
"Experiência 01", preparação da instalação do Colectivo Suspeito na Black Box do Imaginarius Centro de Criação, 4 de novembro de 2022. Fotografia © Colectivo Suspeito. Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Quarto dia O Coletivo Suspeito tinha como proposta: “um espaço liminar entre cumplicidade e contemplação”. Para tanto, através de aparelhos eletrónicos aplicados numa parte do corpo da pessoa que o quisesse utilizar, esse mesmo corpo, através do movimento, distância do recetor, e intensidade, criava uma paisagem sonora. Aqui, neste espaço, o criador convoca a sua coreografia, ou apenas movimentos que improvisa para os partilhar de forma externa e, de imediato, recebe um estímulo da máquina. A partir daqui, a relação é construída pela interação estabelecida entre quem mexe e a máquina que reage, por vezes em duplas, onde há uma nova camada, os dois corpos que interagem e criam um jogo, sendo certo que o olhar de ambos também é influenciado pela reação da máquina. Uma espécie de tradução de movimento para som. Universo que foi explorado por outra criadora, mas que não está neste dia. Por agora, resta-nos devolver o equipamento para irmos à multiversidade. Saída "Experiência 01", registo fotográfico da instalação pelo Colectivo Suspeito. Idem. Há uma coisa certa quando entramos num espaço criado por Rogério Nuno Costa: qualquer coisa pode acontecer. Aliás, para quem acompanha o seu trabalho, sabe que ele pode “ir a nossa casa”. Pode cozinhar para nós. Também pode aparecer noutras criações sobre festas de anos. Ou pode surgir como júri de um espetáculo sobre Eurovisão. Ou pode estar todo vestido de verde. Pode estar a falar, ou pode estar em silêncio. Pode apenas estar. Um trabalho dele não se esgota no texto, na forma ou no local. Rogério trabalha em qualquer lugar, e, por isso, nada melhor que estarmos, agora, num tempo qualquer. Podemos escolher se é agora, se será daqui a muitos anos, ou se até já foi num tempo passado (e encontramo-nos, agora, numa espécie de eco do passado). Rogério não tem a intenção de um tempo. A multiversidade ainda não tem espaço. Mas espera vir a ter. Mas não faz questão que tenha. A explicação é complexa, mas Rogério explica-a detalhadamente, numa autêntica tese; uma tese que, não obedecendo à série de formalismos que o ritual tese obriga, é então a especulação de uma tese. Mas na verdade é uma tese. Ele escreveu. Ele citou. Ele relacionou. E questionou. Até que ponto este “oficial”, este “académico”, este “a sério” vai ficar preso a uns monumentos brutos, que, como bem sabemos, estão podres? Tal como o rei vai nu, também sabemos que a universidade vai nua. E devemos continuar a perpetuar esta ideia de sabedoria centrada apenas num lugar? A autora norte-americana Michelle Visage é peremptória: “Não. A universidade não pode continuar a aparecer em todos os locais como um pedaço de tecido. Porque é apenas isso. E um pedaço de tecido não é um vestido”. Tal como a universidade não devia ser apenas calças e gravatas; mas isto das roupas é muito mais complexo... Complexo é também o pensamento de Rogério (nota de rodapé: Isto é dito porque sim): “O texto que estou a ler é uma emanação, etérea e intangível, da tese que não vou, não quero, ou não posso ler, e projeta-se em várias direções temporais e emocionais: para trás dela, para a frente dela, para dentro dela. Nunca por causa dela. Nunca sobre ela. O avesso da tese”. Podem agora jogar pedra, tesoura e papel. Eu ajudo: na próxima jogada vou escolher papel. No meio do aleatório, pode saber bem uma certeza: Pausa para jantar e pensar. Peça da noite. [Nota: neste espectáculo eu participei como intérprete. Portanto, o que vão ler a seguir não é um olhar de fora, exterior. É um olhar de dentro.] “Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar. As preocupações são aflições do espírito adaptadas à era capitalista. Não estamos mais preocupados com os devaneios, as angústias e com o mistério da existência. Nossas preocupações são as preocupações da agenda, se iremos ter aonde morar, se iremos ter onde dormir e se iremos ter o que comer. Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar.” Estas são as primeiras palavras que Vinicius Massucato entrega ao público. Eu espero. Ele parte a cadeira. Eu espero. Conheço o Vinicius há muitos anos. Mas hoje não o vejo de fora. Hoje é para performar com ele. Ele continua a falar. Há texto na tela. Conheço-o há tantos anos, já o vi fazer tanta coisa, e hoje estou aqui. À espera. Uma flor. Uma mochila. Um casaco. Chegou a deixa. O beijo aconteceu. O texto foi dito. A música acabou. No fim, alguns dos primeiros comentários são sobre o beijo. Perguntei-me, assim como quem não quer a coisa, quantas vezes vi beijos normativos em cena serem tão comentados. Não me recordo de nenhum. Duas pessoas lidas como homens em cena a beijarem-se, parece, ainda, ser necessário. É um ato político. "As Aflições do Espírito" de Vinicius Massucato com Diogo Sottomayor. Cineteatro António Lamoso, 4 de novembro de 2022. Fotos © Colectivo Suspeito. Diogo Sottomayor Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (4 de novembro de 2022). Artistas: Rogério Nuno Costa, Mariana Barros, Tiago Rosário, Vinicius Massucato e Jorge Gonçalves. Espaços: Black Box do Imaginarius Centro de Criação, Foyer e Palco do Cineteatro António Lamoso. Sobre "Multiversidade" de Rogério Nuno Costa por Alexandra Couto Psique e filosofia em spoken word. Dicção sem mácula, timbre au point. Terrena ou cósmica, a matéria expõe-se na volatilidade do pixel. Umas vezes a essência é justa, outras esquiva… Mas em tudo, omnipresente e indefetível, prevalece o cativeiro sensorial daquela magnética e mesmerizante reverberação vocal. "Multiversidade", conferência-performance de Rogério Nuno Costa. Black Box do Imaginarius Centro de Criação, 4 de novembro de 2022. Fotos de Alexandra Couto. "As Aflições do Espírito" de Vinicius Massucato e "Especular o que está entre nós" de Jorge Gonçalves. Registo fotográfico da responsabilidade do Cineteatro António Lamoso, 4 de novembro de 2022:
- RE=INICIAR | Dia # 1
Programa do RE=INICIAR | Encontro de Artes Performativas 2022. Grafismo e artwork de Jani Nummela. Textos de Rogério Nuno Costa. No dia em que saíram da gráfica. Amares, outubro 2022. Diário de Bordo por Diogo Sottomayor Re=iniciar. Re=fazer. Re=imaginar. Re=encontrar. A organização e curadoria do Ballet Contemporâneo do Norte trouxe a Santa Maria da Feira um conjunto de 24 artistas que se espalharam pelos espaços convencionais e não convencionais da cidade – e alguns deles, em mais do que um espaço – mas isso será discutido mais à frente. Isto não é um olhar exaustivo sobre todos os trabalhos, não é uma crítica, e também não é uma memória descritiva, nem tem a pretensão de o ser. Este texto é uma reflexão de alguém que esteve presente neste encontro e que procura, aqui, neste espaço, com esta distância temporal, um olhar de novo para o que ficou, o que aconteceu. O encontro de tantas visões artísticas poderia resultar apenas numa cacofonia de ideias, porém, tal não aconteceu. O espaço de generosidade que cada artista propôs demonstrava que a ideia deste re=iniciar não era apenas uma repetição ou representação, mas sim uma oportunidade de re=ativar uma nova forma de fazer, um novo olhar, passado este tempo sobre a pandemia que, a cada dia, parece mais distante. Sendo isto uma reflexão pessoal de um observador externo, proponho ao leitor um contrato de ficção. Levarei quem quiser caminhar textualmente comigo por estas memórias. Porém, para que a relação resulte, preciso que algumas vulnerabilidades fiquem expostas, pelo que tenho de as mostrar antes de começarmos esta caminhada: Há performances que não consegui ver: Miguel Pereira, Mariana Barros, Nélson d’Aires e Henrique Fernandes. Há performances que não vi porque participei nelas. E ver de dentro não é o mesmo do que ver de fora. Há performances onde estão antigos professores, amigos de longa data e ex-colegas de faculdade. Há performances que não ouvi. Vi entendimentos performativos de quem a ouviu. Há performances cuja construção vi de fora, mas que no dia da apresentação mergulhei com essas pessoas dentro. Há performances onde depois tive acesso ao texto e outras onde apenas tenho a memória do que foi dito. Há performances que considero que não devo escrever sobre elas. Não temos de nos ligar a tudo o que vemos. Cada gesto deste encontro é arte e a arte é subjetiva. Como tal, não quis criar uma ligação artificial. Dito isto, podemos começar, espero que estejam confortáveis. Encontramo-nos no ponto 9. Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (1 de novembro de 2022). Artistas: Marina Leonardo, Miguel Refresco, Carminda Soares e Catarina Real. Espaços: Black Box e Nave Central do Imaginarius Centro de Criação, ruas de Santa Maria da Feira, foyer do Cineteatro António Lamoso. Primeiro dia Marina Leonardo convoca-nos através de uma coreografia simples: “Cicatriz. Andar. Queda. Dança”. E ocorrem uma série de encontros, despedidas, procuras e gestos que nos levem a esse estado de espírito. A construção de algo que, tal como a cadeira da verdade, pode ser verdadeira ou não, essa cadeira é apenas um dispositivo, que nos mostra que o ato de partilhar é mais importante do que saber se é verdade ou não. Uma história não se esgota no seu grau de veracidade. Pausa para almoço. Depois, o encontro com a instalação de Miguel Refresco: “Porque é que aqui o guardanapo é de pano e temos de o colocar no colo? Com alguma relutância, posso dizer-te que há locais onde devemos agir com formalidade e convencionou-se que nestes contextos, sendo de pano, o guardanapo havia de estar sobre as pernas”. Aqui, já sentados, podemos refletir sobre convenções sociais enquanto os elementos naturais a enformam. A areia não é apenas areia. A luz do sol, tal como as convenções, também desaparece quando já não é necessária. O texto desta instalação remete-nos para um quotidiano ao mesmo tempo que há uma partilha de alguém que detesta mesas na diagonal nos cafés. É hora de levantar, preparar as sapatilhas e levar cimento. Mudança de media. Já não estamos numa sala de ensaio. Já não é uma galeria de um museu. Carminda Soares, no seu audiowalk, começa: “Construir um bunker dentro da minha cabeça. Bem lá no fundo do cérebro, um bunker. Podem tocar à campainha, gritar, chamar por mim, estou dentro dum bunker. Dentro da minha cabeça ninguém me encontra.” E daqui, o público é convidado a correr pelas ruas da cidade, enquanto o texto é sussurrado a cada um durante o percurso. Passam pelo estádio com luz rosa para auxiliar no processo de crescimento da relva, passam pela tendo do circo, passam pelas traseiras do circo até à camioneta, que os leva de volta ao ponto de encontro. Carminda leva o seu público atrás dela a correr, e o texto corre nos ouvidos dos espetadores. A mistura das ruas da cidade e dos locais por onde passam leva o público, aquele coletivo, à exaustão. O texto, também ele, repercute a exaustão, terminando: “Há um sistema de poder em todas as parte do mundo. Uns acima dos outros. Mortes que valem menos que outras”. - - - Excerto de "Light on Light", de Carminda Soares. Captação GoPro e edição de Rogério Nuno Costa. Excerto de ficheiro sonoro/texto: Carminda Soares. - - - A camioneta chegou. Da camioneta passamos para a cadeira. E da cadeira Catarina Real termina o primeiro dia com a apresentação do seu livro. Livro esse que parte para a construção experimental de uma narrativa através de recortes de uma coleção de suplementos culturais do Ípsilon, suplemento do jornal Público. Recortes que a autora partilha, agora em livro, mas cuja composição permite novas leituras; um trabalho que evoca, numa certa medida, a obra de Ana Hatherly, deixando-nos olhar para o texto de uma forma mais experimental, numa combinação de palavras para criar uma outra coisa que vai para além do seu significado. Fim do primeiro dia. Diogo Sottomayor - - - Registo fotográfico da responsabilidade do Município da Feira & Cineteatro António Lamoso: "No dia em que assisti/participei/observei/corri no maravilhoso LIGHT ON LIGHT da Carminda Soares, trabalho apresentado no contexto do RE=INICIAR | Encontro de Artes Performativas organizado pelo Ballet Contemporâneo do Norte, em Santa Maria da Feira. Podem tirar o Rogério do abîme, mas não conseguem tirar o abîme do Rogério...", in www.instagram.com/rogerionunocosta