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No ano (2020) em que o Ballet Contemporâneo do Norte completa 25 anos de actividade regular no campo da dança contemporânea, nas suas dimensões de criação, difusão, educação e investigação, decidimos inaugurar um novo andamento programático. A crise pandémica obrigou a uma reestruturação radical, por vezes até trágica, dos nossos planos, mas não quisemos desistir. Este livro é disso prova. Concretiza um sonho há muito desejado, o de compilar uma série de testemunhos textuais, visuais e performativos sobre e à volta do Ballet Contemporâneo do Norte, num objecto editorial plural que toma a forma de um manual teórico-prático para a reflexão (inter- e transdisciplinar) de questões centrais para o pensamento contemporâneo, abordando as áreas dos estudos de performance, da crítica e filosofia da dança, dos dispositivos e operações de arquivo, registo e sistematização aplicados à efemeridade, etc. Um objecto que, em última análise, possa resistir à narrativa institucional da celebração do “número redondo” (só porque sim) ou à convenção formal e académica do “catálogo” monográfico, sem contudo deixar de jogar com esses códigos, questionando-os e reactivando-os em novas elaborações e novos ensejos. Um sonho que é também o de nos permitirmos a trabalhar, a cada nova investida, uma ideia de companhia que se renova, transforma e metamorfoseia, apresentando-se cada vez mais enquanto laboratório experimental, e experiencial, onde se testam possibilidades de estar, ser e fazer “juntos”. Uma companhia que recusa a estagnação, a cristalização dogmática de processos e saberes, e a imposição ditatorial de heranças incontestáveis ou de figuras tutelares. Mas também permitir que se olhe para o passado com o respeito que ele nos exige, sabendo que é nele que estão as mãos que continuamente moldam o futuro, que queremos efabular e continuar a construir. Este livro começou por fazer exactamente isso: uma revisão cirúrgica, e crítica, de um legado, do qual fazem parte artistas, investigadores, técnicos, produtores, pedagogos, acompanhadores e consultores vários, espectadores (claro), mas também amigos, cúmplices e companheiros de batalha. Apesar da sua inultrapassável finitude (não cabe tudo!), este livro parece-nos conseguir espelhar aquilo que tem sido a missão do Ballet Contemporâneo do Norte ao longo dos últimos 25 anos: um projecto analítico de/para o desenvolvimento da dança contemporânea em Portugal. Para que tal fosse possível, convidámos agentes de áreas disciplinares e aproximações à companhia muito diversas (desde colaboradores assíduos a profissionais que apenas conheciam o BCN das redes sociais) para, num objecto heterogéneo e reticular, testarem formulações de pensamento e escrita que testassem essa tal hipótese de uma identidade (ética e estética) mutável, holística e des-hierarquizada, que o BCN tem vindo a desenvolver sobretudo nos últimos 10 anos. Procurar, também, revelar o é que mais invisível, ou menos divulgado, dando especial atenção a processos duracionais de criação e de investigação (e não tanto de “resultados”), iluminando as tensões, às vezes contradições, que se operam no diálogo entre performatividade, experimentalidade, conceptualidade e documentalidade. Também a relação da companhia com o território específico onde a companhia tem sede (Santa Maria da Feira) foi profusamente discutida. A pertinência deste projecto revela-se-nos, assim, na sua estrutura polivalente (em formatos, conteúdos e áreas de pensamento), nas fricções que opera entre documentalidade e efemeridade, arte e crítica, dança e história (da dança), mas sobretudo na evidência de que mantém, ampliando, a nossa missão de partilha de autorias e autoridades, e a antevisão de uma companhia “experimental” de dança, ambição que se edifica num processo gradual e infinito. Também imaterial. Também propiciador de novos discursos sobre a dimensão essencialmente projetual da companhia, tornando visíveis as agências e as autorias de criadores e colaboradores, mas também espectadores e ”participadores”, abrindo caminhos para outras realidades ainda não exploradas. E, porque nos interessa essa confrontação, também a abertura de um espaço para a discussão em torno das fragilidades, das inconsistências e das contradições. Esta inauguração simbólica de um novo ciclo significa, para nós, a solidificação de parcerias e afectividades, idealizando novas colaborações, e perspectivando novos inícios, ou novas formas, também elas experimentais, de começar. Obrigado a todos/as pelo empenho, pela dedicação, pela generosidade e pelo amor. E que venham mais 25!

SISTEMA . INFINITAMENTE . IMATERIAL

Ballet Contemporâneo do Norte . 25 Anos

[1995-2020]

Coordenação: Rogério Nuno Costa

Produção e Edição: Ballet Contemporâneo do Norte

 

Design Gráfico: Jani Nummela

 

Autorxs: Ana Bigotte Vieira, Cláudia Galhós, Joclécio Azevedo, Miguel Refresco, Rogério Nuno Costa, Susana Otero, Vânia Rodrigues

 

Colaboradorxs: Elisa Worm, Gil Ferreira, Jorge Gonçalves, Mariana Tengner Barros, Miguel Pereira

 

Excertos de entrevistas e conversas: Dinis Machado, Diogo Machado, Filipe Pereira, Flávio Leihan, Flávio Rodrigues, Inês Nogueira, Jorge Gonçalves, Mariana Tengner Barros, Renata Portas, Rogério Nuno Costa, Sade Risku, Sérgio Diogo Matias e Susana Otero

 

Fotografias: André Mendes, Daniel Oliveira, Jani Nummela, José Pinto, Miguel Refresco, Susana Otero e Vítor Rosário. Fotografia da contra-capa: José Viegas, com Elisa Worm em coreografia de Carlos Trincheiras para o Ballet Gulbenkian.

Agradecimentos: Luís Carolino, Paulo Vasques, Sofia Reis, Eduarda Neves, João dos Santos Martins, Gonçalo Amorim, Bruno Moreira, Fátima Sá, Tiago Coimbra.

Impressão: Lidergraf - Artes Gráficas, S.A.

Ano de Edição: 2020

Tiragem: 100 exemplares

N. DL: 476411/20

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