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RE=INICIAR | Dia # 2


"Primeiro Nada, Depois Nada", workshop de Daniel Pizamiglio, registo de Diogo Sottomayor (Sala de Ensaios do Cineteatro António Lamoso), 2.11.2022.


 

Diário de Bordo

por Diogo Sottomayor



Manhãs.

As manhãs deste encontro, a partir daqui, repetem-se até ao dia da apresentação do produto “final” , no domingo, com Daniel Pizamiglio.



Segundo dia


Olhar externo.


“Olhar para o outro como se fosse a primeira e a última vez”, propõe Daniel Pizamiglio.


As pessoas dançam. Eu escrevo.


Sobre.


Sobre diferença do outro.

Sobre dois encontros. Um em 2009 e outro em 2019.

Sobre composição em tempo real.

Sobre olhar como se fosse a primeira vez.

Sobre olhar como se fosse a última vez.

Sobre repulsa.

Sobre novas formas de estar-juntos.


O que é olhar para as coisas como se fosse a última vez?

Um encontro de partilha, papel e caneta.


"Primeiro Nada, Depois Nada", workshop de Daniel Pizamiglio, registo de Diogo Sottomayor (Sala de Ensaios do Cineteatro António Lamoso), 2.11.2022.

 

Pausa para almoço.


O próximo encontro é sobre colecionar.


Colocar a música "Lambada", de Kaoma (1989):



Pedro Augusto (arquivo 'Found Tapes' Porto): “Trata um conjunto de resíduos fonográficos derivados do suporte áudio-magnético, habitualmente designado por cassete, recoletados das ruas da cidade entre 2004 e 2019.” Durante a performance, escutamos alguns destes registos: a mítica música "Lambada" parece ser uma constante em várias das cassetes, mais naquelas que são encontradas na praia, na verdade, nas fitas encontradas pelo artista. Dentro do seu espólio: “Há músicas de diversos estilos e épocas, gravações caseiras, cursos de línguas ou até gravações de memory data, como jogos ou software.” A extensão da fita corresponde a um determinado tempo de gravação. A fita, nas mãos do público, é tempo sonoro gravado. Sons que persistem no tempo através da fita para poderem ser re=iniciados quando ativados novamente.


Desligamos a música de Kaoma.


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Agora vamos jantar.


Taverna do Xisto, Santa Maria da Feira, foto de Rogério Nuno Costa, 2.11.2022.

 

Espectáculo da noite.


Passamos para Banquete (Júlio Cerdeira): “Olhar sobre o corpo humano como matéria desantropomorfizada, um despir consecutivo da pele dos corpos, que a cada camada se mostram menos escurecidos e mais pigmentados.” Com efeito, o criador propõe uma nova visão sobre o corpo, nomeadamente através da justaposição de dois corpos. A influência de criadores como Marlene Freitas Monteiro e Dimitris Papaioannou no trabalho revela-se através de alguns gestos em cena. Uma proposta que torna a luz o elemento principal neste jogo do esconder–revelar, enquanto os dois corpos comunicam entre si e colocam em evidência a violência de um sobre o outro.


Fim do segundo dia.



Diogo Sottomayor

 

Registo fotográfico realizado por Jani Nummela (2 de novembro de 2022). Artistas: Pedro Augusto, Henrique Fernandes e Banquete (Júlio Cerdeira). Espaços: Black Box do Imaginarius Centro de Criação e Cineteatro António Lamoso (Palco).


 

Sobre "ZAUMFLUX" de Henrique Fernandes

por Alexandra Couto



Concebido especificamente para o Encontro de Artes Performativas do Ballet Contemporâneo do Norte, “Zaumflux” é um concerto, uma performance, um laboratório. As quase 20 peças que Henrique Fernandes distribui pelo chão, todas com aparência tosca e funções inicialmente indiscerníveis, fazem lembrar uma oficina de eletromecânica ou aeromodelismo, mas o que na penumbra mais têm em comum é que emitem sons e luz, tinem, reverberam, atuam, reagem. Nesse labirinto, o público identifica com dificuldade tábuas de madeira, molas de metal, cavilhas de cítara, um gira-discos, dois pratos de bateria, uma cuvette de cogumelos, barras de (agressiva) esferovite para executar com um arco de violoncelo... Nenhuma dessas peças, contudo, vale mais por si própria do que pela máquina em que se insere ou o conjunto que compõe. E é por isso que, abstraídos do individual, nos deixamos embalar por um coletivo de instrumentos inóspitos. Há momentos em que as frequências testadas agridem, como unhas a raspar num quatro de lousa, mas o que predomina é um som puro, que, embora com ritmo e uma certa e esparsa melodia, já é raro no quotidiano e pouquíssimas vezes se aprecia nesta simultaneidade de tempo e espaço, comodamente, no conforto de uma sala que permite olhos fechados sem que nos acusem de sono e desprezo. Chegando a ser calmante e hipnótico, inspirando recolhimento e meditação, o exercício sono-electro-magneto-luminoso de Henrique Fernandes é uma viagem parada. Tem gotas de chuva que caem do telhado para um balde de chapa, chamadas interrompidas no auscultador de um telefone fixo, o ronco do motor de um camião de caixa aberta, a campainha insistente da cancela do Vouguinha, a hélice discreta de uma avioneta, o chamamento melancólico de um amolador de facas, a conversa misteriosa das orcas, o sopro enigmático de um corno de osso nos fiordes. ■


Alexandra Couto

 

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Registo vídeo-fotográfico de Rogério Nuno Costa durante a primeira visita ao espaço de trabalho/residência de Valentina Parravicini, na Sala de Conferências do INATEL (Santa Maria da Feira), 2 de novembro de 2022:


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